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Oficio, um tasco atípico.

O Oficio era daqueles restaurantes fetiche que ainda não tínhamos tido a oportunidade de conhecer. Felizmente à coisa de dias e a convite lá fomos almoçar aquele que certamente é um dos restaurantes do momento.

Fotografia de Luís Ferraz

Imaginem um espaço clean, e despretensioso onde nos sentimos acolhidos como se estivéssemos no nosso próprio lar. Uma grande porta de vidro separa-nos do frenesim da agora "Rua Azul", na Rua Nova da Trindade. No mesmo local, com o mesmo nome, mas com o espaço, a imagem e o menu completamente diferentes. As carnes suculentas saem e abrem a porta ao produto da estação. Sustentabilidade não é só uma moda, é o futuro tanto da cozinha como do bar e Hugo Candeias, o Chef executivo sabe disso e aplica bem esse conceito.

Fotografia de Luís Ferraz

Hugo Candeias ficou conhecido no último ano pelo trabalho desenvolvido no The Art Gate, a poucos metros do Ofício e onde apresentou uma proposta de fine dining. Hugo trabalhou nos últimos anos em Espanha, em restaurantes de Albert Adriá, antes de se mudar para Portugal e integrar a equipa do TAG e agora do Ofício.


Parte da carta deste Ofício nasceu durante o segundo confinamento, quando o TAG e o Ofício desenvolveram menus semanais de take away e delivery, onde a equipa teve oportunidade de testar algumas receitas que viriam a integrar este novo projeto.


Ofício quer ser o reflexo desta nova geração de foodies. Pessoas que gostam de comer, que valorizam a origem dos seus produtos, as tradições que valem a pena manter e relembrar, as regras que podem e devem ser quebradas, mas que procuram conforto, descontração sem atabalhoamento, e sobretudo bom serviço, informal mas competente com uma excelente carta de vinhos.


À entrada esta a barra. 14 lugares mesmo junto à pista de gelo recheada de ostras e que convida a uma tarde bem passada, com um copo de vinho pouco convencional. A sala de refeições no interior recebe 40 pessoas, está dividida por um espelho central e iluminada por um janela ampla. Do antigo espaço ficaram apenas as cadeiras, renovadas e revestidas a veludo azul que combinam com os mármores claros e os tons tijolo. O néon Revolution dá as boas-vindas ao interior do restaurante, e na passagem para a sala interior, dois espelhos contém gravações: Original Copy e Copy Original. Na parede da última sala, a obra How to Drink Wine, dá sede, e João Pombo, o sommelier está sempre por perto para resolver este problema da melhor forma.


Tudo no Ofício surpreende, a começar pela carta e acabar na conta. Disponível na parede da rua para leitura de passantes ou no QR code dos individuais com expressões idiomáticas portuguesas, faz lembrar uma folha de rascunho, onde rasuramos, apontamos, fazemos setas e assinalamos coisas importantes. Já as bases dos copos têm outro QR code secreto, desta feita para uma playlist Ofício, montada a rigor pelo restaurante. Nas tshirts do staff pode ler-se “De pequenino se torce o pepino”, “Vai à fava”, “Soltar a franga” ou “Estar com os azeites”.


No Oficio brinca-se com a comida. O recheio de Santola do Algarve é mais fresco, com um toque a funcho, o Torresmo chega em forma de nuvem, temperado e convida a ser partido e comido com as mãos. O taco vegetal do mar remete-nos para a street food e vontade de lamber os dedos no final do mesmo. As ostras, carnudas, servidas ao natural ou com diferentes molhos, são uma explosão de mar e sabor nas nossas bocas. O Tártaro de novilho é uma ode à carne de qualidade. Incrivelmente bem temperado, acompanha com um pão brioche grelhado com azeite de alecrim. A raia, feita no fogo com molho de ervas é a personificação de que com boa matéria prima devidamente cozinhada, os acompanhamentos não fazem falta alguma.


E como o Oficio não vive só da carta, Hugo e a sua equipa têm sempre mais um ou outro prato tirado da cartola e de acordo com a estação que se vive. Quando visitámos provámos umas incríveis línguas de bacalhau que surpreenderam em tudo e desmistificaram a ideia que tínhamos desta incomum proteína. Para terminar com chave de ouro aquela que é sem dúvida a melhor sobremesa da cidade. A tarte de queijo Catalã.


Claro que muita coisa ficou por provar e que acreditamos que vale mesmo a pena conhecer, até porque vimos os pratos passar para as mesas vizinhas e ficámos com água na boa. Falamos do croquete de alheira com gema de ovo de codorniz fazendo lembrar um scotch egg. O cachaço de bacalhau com molho de grão e outro de cebola; e o incrível arroz de forno à antiga com frango e carnes de fumeiro, três caldos diferentes, com um refogado de várias horas à semelhança do que é feito com as paellas e que cada vez que passava uma travessa, todo o espaço ficava aromatizado com o cheiro do mesmo. Dá água na boca, não dá?.


No que toca a vinhos, João Pombo está sempre pronto para dar a provar rótulos diferentes. Entre opções mais consensuais, mas pouco conhecidas, a vinhos naturais desafiantes, a carta é extensa, original e com muitas opções a copo, para bons provadores.

Fotografia de Luís Ferraz

O Oficio está aberto de terça a sábado das 12h30 até à meia noite. O horário é amplo. Além das refeições, almoço e jantar, está aberto continuamente durante a tarde, com opções da carta mais reduzidas, ideais para um copo a acompanhar pequenos petiscos. Podem fazer a vossa marcação para o 910 456 440.

Bom apetite.