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Fine Dining - A Ver Tavira de Luís Brito

O Algarve não é só sol e praia, turistas e famílias. O Algarve é histórico, pitoresco e local onde os aromas e sabores do receituário nacional estão cada vez mais presentes e constantes nos menus dos restaurantes. Em pleno Sotavento Algarvio, na cidade das muitas Igrejas, encontra-se o estrelado restaurante A Ver Tavira.


A prova de que um bom e consistente trabalho traz proveitos pode ser vista neste minimalista espaço com um terraço que nos permite abraçar a luz de Tavira. Luís de Brito não é novo nestas andanças, muito pelo contrário, já conta com cerca de 30 anos de experiência. Natural de Santa Clara-a-Nova (Almodôvar), iniciou o seu percurso na cozinha em 1989, quando ingressou na Escola de Hotelaria de Faro, tendo-se formado em cozinha e pastelaria. Começou a sua digressão profissional como cozinheiro, passando por vários restaurantes e hotéis na região do Algarve e assumindo o papel de Subchefe Executivo do Hotel Alfamar, um dos maiores hotéis à época no Algarve. Hoje, a liderar o seu próprio projeto no “A Ver Tavira”, já conquistou várias distinções, sendo que a desejada Estrela Michelin foi um dos últimos a juntar-se a todas as outras.


Pessoa humilde e trabalhadora Luís Brito procura afirmar na gastronomia contemporânea portuguesa as suas raízes mas também as vivências adquiridas pelo Mundo, no seu contacto com povos, culturas, cores e os aromas, mas acima de tudo os sabores… os quais estão representados de forma indelével nos seus pratos de autor.


Cláudia Abrantes, além de Maitres Sommelier é a partner in life do Chef Luís. Juntos comandam a jovem equipa de sala e de cozinha, proporcionando a cada cliente uma experiência única e inesquecível. A sua garrafeira é composta maioritariamente por referências nacionais. "Tirando os champagnes, optamos por ter uma oferta nacional vasta, com forte aposta da região do Algarve", confessou-nos Cláudia enquanto se apresentava.


Foi na passada primavera que a título de convite tivemos a oportunidade de descer a esta linda cidade e de nos sentarmos à mesa daquele restaurante que mais curiosidade nos suscitava. Quem era Luís de Brito e aquela equipa que colocou Tavira no mapa das Estrelas? Recebidos de forma exímia, fomos levados até à mesa situada perto da garrafeira onde Cláudia "brinca" com as suas ferramentas.


Uma sala ampla com mesas uniformes e toalhas brancas sobre as mesmas. Cadeiras robustas e confortáveis para quem irá passar umas agradáveis 3h sentados nas mesmas enquanto prato atrás de prato o repasto irá passando sobre a mesa para nosso total deleite. A equipa organizada aguarda a sua vez até vir à mesa apresentar-se. O champagne está servido. Um refrescante Deutz Brut Classic que envolve na perfeição com os snacks iniciais. Na mesa um quarteto fresco que abre as hostes de uma maneira súbtil mas onde o sabor se faz sentir logo de início. Ervilha, chouriço e ovo, numa representação de umas deliciosas ervilhas com ovos escalfados; falsa azeitona; tartelette chevice de dourada e mousse de pescada e airbaguette com mousse de ovas e alcaparras. Tudo para ser degustado numa a duas dentadas e no final não ter vergonha em lamber os dedos, ao fim ao cabo o nosso receituário pede isso.


Os copos mudam e um fresco Quinta do Pinto Arinto de 2017 mostra a sua raça com a acidez au point. À mesa o carabineiro cozinhado na perfeição com texturas de couve flor e um fabuloso e intenso molho de caril. Ao lado, um pequeno bolo do caco para podermos aproveitar ao máximo toda aquela envolvência de texturas e de sabores. Um pairing perfeito e a prova de como algo simples pode ser intenso e perdurar nas nossas memórias gustativas como uma das grandes entradas até à data.


O pão é algo tão presente nas mesas portuguesas que os restaurantes de topo apostam neste momento que sem dúvida é dos nossos favoritos e mais esperados. A simplicidade de rasgar uma boa fatia de pão de massa mãe, acabado de cozer e levá-lo até ao azeite Monterosa de Moncarapacho, que nos foi servido, é tão prazeroso que o tempo poderia parar ali enquanto degustávamos o momento. O brioche também feito na cozinha e a leve manteiga com algas do mar e sal são como dois gémeos inseparáveis e por último os cristais de Sal Marim de Castro Marim criam algo harmonioso e que nos permite experimentar texturas e sabores. Vale tudo, até lamber os dedos.


Ainda com o momento anterior na mesa, uma pequena pausa é feita para que Cláudia introduza o Munda Encruzado Dão de 2018. Um branco cheio de pujança e que iria abraçar na perfeição o prato seguinte que foi servido pelo Chef Luís. Na mesa uma açorda com gema de ovo e alho negro a servir de cama para um soberbo lombo de corvina cozinhado eximiamente ao vapor. No topo, um crocante de coentros, alga e pão a simbolizar a flora marinha. Um prato que mais uma vez traz à mesa o melhor dos nossos mares e que nos abre o palato para o momento seguinte.


Com a sustentabilidade e a sazonalidade bem assente, a questão que se segue é: "Se eu fosse uma cataplana?" Prato tão típico e tão tradicional do receituário Algarvio, no A Ver Tavira é recriado de forma epopeica com o pescado do dia. No nosso caso, um brilhante salmonete perfeitamente bem cozinhado onde a carne se faz sentir, um camarão da costa intenso e cheio de sabor, bivalves escolhidos a dedo, crocante de batata e uma espuma que ligou todos os elementos no prato de uma forma subtil. No copo, Cláudia apresentou um Alvarinho cheio de força e acidez By Élio Lara View Alvarinho 2020 de Melgaço que foi uma das surpresas da noite.


Pequena pausa para trocar opiniões e terminar o vinho anterior e chega à mesa o tinto. Boa Vista, Douro, Reserva 2017. Um Blend do Douro com tudo o que aquela região nos tem para dar. Sabor, final de boca, frescura e elegância. No prato, um naco de rubia galega divinamente cozinhada com raiz de salsa e um jus guloso que não deixou vestígio algum no prato (bem dito pedaço de pão que guardámos). Ainda houve tempo para um desafio de Cláudia que para o mesmo prato trouxe também um Quinta do Barradas Reserva Syrah 2016 e que satisfez o palato de um dos elementos da mesa que não é de todo fã desta casta. Que maneira perfeita de terminar a ronda dos pratos salgados.


A noite ia longa e a refeição prolongada mas há sempre espaço para a sobremesa. Nestas experiências a sobremesa acaba por ser um complemento da mesma e não apenas algo doce que somente nos iria agitar e irritar o palato. Morgado, um doce conventual de origem em Évora, desce até Tavira e vê a sua reinterpretação ser criada por Luís de Brito. Bastante equilibrado, o toque de pomelo (citrino) é o suficiente para que se torne numa sobremesa fácil de digerir e onde o açúcar não se sobrepõem aos outros componentes. No copo uma colheita tardia Clemente de B 2018 onde o cítrico também sobressai e casa na perfeição com o prato apresentado. Colheita esta que também nos acompanhou na sobremesa seguinte e cujo pairing foi por contraste. Da Madeira para Tavira, banana, poncha e flores elegantemente trabalhas entre técnicas distintas e de confeção, numa sobremesa elaborada mas de sabor intensa que não agradará todos nós. Para fechar com chave de ouro, com os cafés, as mignardises visitam o algarve com a sua castanha e falsa laranja.


O restaurante A Ver Tavira é sem dúvida um espaço de referência neste Sotavento que de ano para ano nos tem vindo a surpreender. Aliado à excelente cozinha de Luís de Brito, encontramos também o amor que este tem pelo seu espaço e pelo que faz. Amor esse que se espalha por toda a equipa e que é passado para nós momento após momento. O Menu A Ver Tavira que provámos tem um custo de 135€ por pessoa, sendo que o pairing sugerido é de 95€. Podem e devem fazer a vossa reserva para o 9129500019 ou através do site.

Bom apetite.