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Fine Dining - BAHR de Bruno Rocha e Nuno Mendes

Há muito que os restaurantes de Hotel deixaram de ser apenas para os hóspedes. Estejam de porta aberta para a rua ou localizados no rooftop do mesmo, cada vez mais estes espaços estão abertos à cidade e às suas pessoas. Dentro do "recentemente" renovado Hotel do Bairro Alto, num dos seus pisos mais altos, encontramos o BAHR. Do antigo restaurante de piso térreo apenas restou parte integrante da equipa, tal como o Chef Bruno Rocha que sempre nos surpreendeu com as suas apostas e criações. O BAHR é muito mais que um restaurante, o BAHR é a vivência da zona onde está inserido. Pequenos almoços, almoços, brunch, "all day dining" e jantares. Todos eles com cartas distintas para momentos distintos. Tivemos a oportunidade de usufruir de um jantar, mas não sem antes nos sentarmos na barra e perceber o trabalho que fazem a nível de cocktails. E que trabalho.


Mas comecemos pelo inicio. O minimalista Chef Nuno Mendes dispensa apresentações. Quem anda neste meio já o conhece do Viajante, Chiltern Firehouse, Mãos e mais recentemente no Lisboeta, todos eles em Londres. Nuno é um apaixonado da gastronomia Portuguesa de tal modo que pegou em si, viajou até Londres e deixou aquela cidade maravilhada com as suas propostas, conquistando em 2011 uma Estrela Michelin no Viajante e mais recente no Mãos. A simplicidade da sua cozinha baseia-se no sabor do produto no seu estado mais natural e é isso que encontramos em toda a carta do BAHR. Bruno Rocha é quem executa e mais vezes está presente no espaço. Bruno é "da casa" e a sua humildade aliada ao seu esforço e constante procura pela excelência ainda o vão levar bem longe.


O BAHR é um espaço elegante. Subindo ao 5º andar do Bairro Alto Hotel, entramos num espaço elegante mas despretensioso. Uma pequena esplanada deixa-nos ver e viver o burburinho da baixa lisboeta e uma longa barra convida-nos a sentar um pouco e bebermos um cocktail de assinatura por Tiago Santos, o head bartender do hotel. Assim fizemos. Tiago é também ele um estudioso. Jovem e de conversa fácil, adora desafiar palatos e aproveitar tudo aquilo que sobra à cozinha. A sua equipa jovem tem liberdade para criar e assim é mais fácil encontrar uma homogenia e alegria no trabalho. As propostas vão muito dentro dos clássico (obrigatórios neste tipo de espaços hoteleiros) e numa carta de drinks de autor para todos os gostos e palatos. Aperitivos, digestivos, frutados, cítricos, fumados e até sem álcool. Resiliência tem mesmo de ser provado, foi com este cocktail que Tiago Santos chegou à final da competição da Remy Martin, o prestigiado conhaque. O Negroni de coco também o recomendamos pelo seu perfil mais frutado.



A sala é ampla. As mesas e cadeiras em madeira. Os talheres assentam diretamente na mesa, dando uma sensação informal mas sempre elegante que se transmite à equipa e que se sente por toda a refeição. A cozinha, aberta para a sala e à vista de todos é apenas o prolongamento da sala e onde toda a magia acontece. Cada cozinheiro na sua estação preparam a parte do prato que lhes compete até que Bruno Rocha finaliza e aprova se está pronto para seguir para as mesas. Ao contrário dos restaurantes deste género, no BAHR não existem menus, tudo é a carta e os snacks são servidos em duas porções de modo a poderem ser partilhados (ou não). Entradas, couvert, principais, sides e sobremesas completam as diferentes ofertas.


Sentados à mesa, Vasilii, o sommelier do BAHR, serve-nos um Kompassus Rosé Brut Nature. Nada como umas bolhas bem aromatizadas da Bairrada para abrir o palato. Palato esse que logo em seguida recebe a já famosa tosta de percebes fumados. Pão tostado, percebes na sua forma mais natural, salicórnia e um gomo de limão para se espremer sobre a mesma e equilibrar sabores. Levar à boca e tentar não devorar tudo de uma só vez.    


Seguimos com pratos de mar, mas este com uma ligação pouco provável à terra. Lula grelhada, feijão verde, grelos e algas. Visualmente um "fettuccine" onde as texturas dos ingredientes estão alinhadas e cozinhadas na perfeição. Tudo neste prato é "crunchy" e envolvido num leve creme de feijão verde. Garfada a garfada os ingredientes ganham sabor e a bolha do Kompassus que ainda está no copo só aumenta essa sensação. Uma das surpresas da noite.


Vasilli regressa à mesa com uma proposta arrojada mas muito bem pensada para os pratos que se seguiram. No copo um Busardières Bourgueik 2015 Domaine de la Chevalerie. Um Cabernet Francês cheio de fruta preta, cogumelos, mineralidade e com perfil bastante terroso que nos surpreendeu pois não o conhecíamos. Desde então somos melhores amigos. No prato cogumelos e trufa. Caldo, estufados, de diferentes tipo e em diferentes texturas. Uma colher para comer como se de um vigoroso caldo de legumes se tratasse e nunca um tinto casou tão bem com um prato térreo. A cada golo, uma colherada e o umami que nos preencheu figurativamente a boca toda.


Passamos ao prato principal e sem dúvida à estrela da noite. Pregado selvagem, caldo verde e chouriço. O pregado exímio, cozinhado como manda a regra vem assente num puré de caldo verde e chouriço. Peixe da nossa costa com um caldo que também é tão nosso. Conforto e sofisticação de mãos dadas num prato que facilmente comíamos todos os dias fosse a que refeição fosse, e o Cabernet que harmonizou na perfeição. 


A noite já ia longa e entre os snacks e cocktails no bar e estes maravilhosos pratos, já não nos foi possível provar mais nada. Preferimos sempre voltar do que desperdiçar e desrespeitar o trabalho de uma equipa que deixa os clientes à vontade. O trabalho de realizado por aquela rapaziada está ao nivel dos melhores e mais estrelados restaurantes do país. Não sei se pretendem chegar a esse estrelato mas certamente vão no bom caminho.


Aberto todos os dias, o BAHR serve jantares a partir das 19h. O valor médio por pessoa ronda os 70€ com bebida a copo, isto sem cocktails. Podem e devem fazer a vossa reserva para o 213 408 253 ou por aqui. Nós vamos fazer a nossa.

Bom apetite.