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Fine Dining - Atlântico de João Viegas.

Regressemos por breves momentos ao pico do verão para partilharmos uma experiência que todos vós deveriam de ter. Rumando a sul, como habitual, para desfrutar de uns dias em familia com praia, sol, boas conversas e, claro, ótimas refeições. Tivemos a oportunidade de viver a experiência Atlântico. O Atlântico podia apenas ser um restaurante cliché, daqueles com um grande salão, com staff educado e pronto a proporcionar-nos uma noite única, com uma vista praticamente infinita entre a grande piscina e o mar que nos rodeia; mas não, o Atlântico é muito mais que isso. É um fine dinig, sem estrela, mas com a melhor vista para um céu estrelado; é um restaurante cosmopolita com um excelente menu cuja influência maritima está bastante vincada e uma oferta vínica à altura. É um sítio onde nos sentimos em casa e queremos sempre voltar.


Inserido num dos melhores (senão mesmo o melhor) Resort em Portugal, o Vila Vita Parc, o Restaurante Atlântico é comandado pelo jovem e criativo Chef João Viegas. Com uma cozinha assente na sazonalidade do bom produto de época e na sustentabilidade em que nada se perde, tudo se transforma, a gastronomia do Atlântico Restaurante inspira-se nas raízes gastronómicas e culturais que o Algarve acumulou ao longo dos séculos, desde o tempo das conquistas e descobertas, que tornam os ingredientes típicos, alguns ainda que esquecidos ou mesmo desconhecidos, fornecidos de hortas biológicas locais, pequenos produtores e fornecedores regionais, em retrabalhadas receitas tradicionais algarvias.


Com um design interior elegante e sofisticado em tons de azul que evoca o oceano a estender-se pelo interior da sala, o Atlântico oferece uma das melhores vistas dos jardins subtropicais e da piscina infinita do resort, em particular a partir do terraço, que é a área mais procurada no restaurante e onde tivemos a oportunidade de degustar a nossa refeição de excelência. Após umas calorosas boas vindas, deu-se a apresentação do espaço onde uma mesa com a melhor vista estava à nossa disposição. Em pleno terraço a vislumbrar o verde do resort e o mar que o rodeia.


A refeição começou com uma proposta de aperitivo, à qual deixámos inteiramente nas mãos da host. "escolha como se fosse para si" - dissemos nós, e sem hesitar foi-nos servido um sublime Champagne Ayala Rosé Majeur cheio de frescura e de vitalidade que nos acompanhou enquanto decidimos o menu. Com total ausência de carne, o menu do Atlântico contempla essencialmente os vegetais e o pescado da costa algarvia. Para provar efetivamente o excelente trabalho de João Viegas, optámos pelo menu de degustação pescetariano composto por 6 momentos distintos e os seus respetivos pairings vínicos.


Novamente com o Ayala no copo, os snacks de boas vindas chegam à mesa cheios de cores e texturas. Beterraba, bivalves, algas num snack fresco a lembrar um pequeno sorvete que nos ajudou a preparar o palato para o que estava para vir, e uma tartelete no ponto para se comer com uma só dentada com santola e esfirificações de gel e cremes maritimos. Simplesmente sabor e técnica bem apresentados com o toque da leve brisa do mar que se fazia sentir numa noite bem quente. Ainda antes da primeira entrada, o momento do pão chega à mesa com duas generosas fatias de pão de barbela e outras duas de pão de alfarroba. Para o adornar, estava na mesa também azeite, manteiga caseira com balsâmico e a representação em modo de barrar das iconicas cenouras algarvias.


Com a primeira entrada, chega também a primeira harmonização. Hibernus Millésime 2018 Brut Nature Grande Cuvée, um fabuloso espumante da Bairrada cheio de frescura e fruta com uma bolha fina e elaborado com muita elegância, acompanha as texturas de tomate com gamba da costa. No prato uma rodela de tomate, uma esferificação de tomate e a água do mesmo a banhar uma crocante gamba da costa. definitivamente um dos best off da noite devido ao seu equilibrado sabor e técnica usada. Nova entrada, novo vinho. Agora no Algarve, um incrível Arinto Paxá. Acidez e vivacidade ao rubro num vinho jovem mas com muito potencial. No prato uns gulosos "hot dogs" de tinta de choco com recheio de carabineiro e outras delicias marítimas, bem como um leve e especiada maionese que liga todos os elementos no "byte" de uma forma bastante suave. Para comer com as mãos e lamber os dedos sem vergonhas no fim.


Do Algarve a Lisboa com um copo de distância. Desta vez Marco Teixeira, o jovem sommelier de serviço apresenta-nos um guloso Lisboa, Vital 2019 de Hugo Mendes que casou na perfeição com as texturas de santola. Num prato em forma do crustáceo, um pouco da sua carne e uma falsa azeitona é levemente regado por um caldo que nos desperta todos os sentido. Ao lado e numa colher, mais um pouco da sua cerne, com caviar e esfera de azeitona para despachar de uma só vez. Um prato de transição para a intensidade do prato que se seguiu.


O polvo (outro dos ex-libris da noite) chega à mesa com os seus tentáculos meticulosamente cozinhados no ponto, envolto de um puré com textura de mousse de cenoura e adornado com raspas de ovas de polvo secas em forma de muxama que trouxe a parte umami ao prato, onde todos os sabores se uniram em algo que não só enalteceu a salinidade do prato, como lhe conferiu uma elevação soberba ao seu sabor. Sem dúvida um prato intenso mas agradável a qualquer palato. No copo uma das surpresas da noite. Screw cap em ação, um delicioso e adocicado Sauvignon Blanc Craggy Range Martinborough Te Muna New Zealand 2021. A uniformidade, frescura e doçura deste vinho ainda fizeram com que o prato soubesse melhor. Este já bebido durante a noite quente que se fazia sentir, teve direito a repetição por cortesia do Marco.


Antes do último prato salgado houve tempo para um pouco de conversa com o Marco sobre os vinhos do Algarve que felizmente estão em crescimento e apresentam opções frescas e cheias de vivacidade ao nosso palato. Como ainda não tinhamos bebido tinto, a escolha caiu por um João Clara Negra Mole Reserva. Casta tipicamente algarvia, este vinho foi uma aposta ousada para o pregado com arroz de coentros e folhas na brasa. Tudo no ponto e comido até ao fim como bom português. Nem o molho escapou ao miolo de pão.


Fugindo também um pouco ao óbvio, com a sobremesa ao invés de um Porto, de um Madeira ou um Carcavelos, a proposta caiu numa colheita tardia Lagoalva de Cima Crypto Botritis. Com um perfil seco e com a doçura e acidez q.b. esta colheita foi o pairing ideal para as mil e uma formas de representar a laranja algarvia numa sobremesa cheia de texturas e graus de doce diferentes. Sem sombra de dúvidas a melhor maneira possível de terminar esta refeição luxuosa.


Se o Chef João Viegas e a sua equipa de cozinha nos conseguiram prender da primeira à ultima garfada com um menu fora de caixa e de nível muito elevado, não nos podemos esquecer de felicitar toda a equipa de sala e terraço que são incansáveis na hospitalidade e no serviço de todos os clientes em plena época alta. Temos também de enaltecer de pé o trabalho de Marco Teixeira como sommelier do Atlântico. Apesar de ter uma boa escola por trás e de ter como head sommelier do resort o grande Ricardo Rodrigues, sentimos no Marco o dom de arriscar e surpreender, aliado a uma enorme paixão pelo mundo vínico. O menu pescetariano que nos foi servido de 6 momentos tem o valor de 135€ por pessoa e é servido a toda a mesa com um mínimo de duas pessoas, já o pairing de vinhos tem o valor unitário de 75€. Como opção existe também o menu vegetariano de 6 momentos por 90€, semdo que o pairing sugerido tem o mesmo valor de 75€. Não deixem de fazer a vossa reserva.


Bom apetite!