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Conversas de Bar - World Class 2018

Diogo Lopes é um jovem dos finais da década de 90. Podia ser como todos os jovens dessa altura, cujas responsabilidades parecem passar um pouco ao lado da sua vida, mas o Diogo é diferente.


No alto dos seus 21 anos, Diogo já jogou futebol, já fez um curso técnico de restauração mesa/bar na Escola Profissional de Salvaterra de Magos e trabalha atualmente no melhor bar de Portugal e no 92.º melhor bar no Mundo, o Red Frog Speakeasy. A competição e necessidade de aprendizagem está-lhe nas veias e foi também com o seu empenho que o bar onde trabalha ganhou os prémios todos que haviam para ganhar. Dedicado ao seu trabalho, gosta do que faz e a sua criatividade levaram-no a estar entre os 6 melhores bartenders de Portugal na final da competição World Class. Não a venceu, mas se não arrumar o shaker na prateleira, este prodígio da cocktelaria nacional tem um futuro risonho pela frente.

- Olá Diogo, antes de mais o nosso obrigado pela tua disponibilidade. Queríamos começar por perguntar onde surgiu a ideia de participares na competição da World Class?

DL - A competição sempre fez parte da minha vida, num primeiro momento no futebol e agora, no mundo do bar. Sempre quis participar no World Class porque é a competição que avalia os bartenders num nível muito mais completo, que qualquer outra.

- Fazer cocktails para um menu ou cocktails de autor para uma competição não é o mesmo processo. Para ti em que é que se diferenciam e em que consiste cada uma das criações?

DL - Todas as competições têm os seus "temas" ou "desafios" nos quais tens de te basear. Para além disso, sabes que o teu cocktail, numa competição, vai estar a ser avaliado por profissionais experientes do ramo. 
Quando crias para um menu também podemos ir buscar um “tema” para nos inspirarmos, mas o público-alvo vai ser diferente: tens de ter noção que a maioria das pessoas que vão provar os teus cocktails não fazem parte deste mundo. Como tal, tens de verificar o que "faz falta" para teres um menu completo composto por drinks que vá dos doces e frutados aos amargos, passando também pelos cítricos.

- Como consegues transpor as tuas ideias e conceitos para o copo?

DL - Essa parte pode ser fácil e difícil ao mesmo tempo. Todo o processo requer muito trabalho de pesquisa para criar um conceito “firme”, mas depois tudo aquilo que concebemos na nossa cabeça pode não resultar na prática, e somos obrigados a recuar uns quantos passos.
No fundo, não há nenhum guião que siga, porque acabamos sempre por ajustar uma coisa ou outra para que o resultado final seja o pretendido.




- Sabemos que em competição tudo tem o seu élan, conceito e história. Posto isto, como começou o processo de criação do "Infante" ?

DL - “O Infante” surgiu porque eu quis fazer um cocktail onde ligasse o Mar e Terra. 

- Qual a história ou a mensagem por trás do mesmo?

DL - Inspirei-me no poeta Fernando Pessoa, que no poema ortónimo (com o mesmo nome que adoptei para a minha criação) incluído na “Mensagem” menciona o que eu quis retratar – “(…)Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse.(…)” –  e  no Surf and Turf (prato principal que combina uma proteína do Mar e outra da Terra).
Com isto em mente, fui buscar o Chouriço e a Sardinha, dois produtos humildes e tipicamente portugueses, que fazem parte da minha alimentação desde que me lembro.

- Sem ser O gin Tanqueray Nº10 e a vodka Ketel One, não querendo desvendar nenhum segredo, quais os ingredientes chave que o torna único? 

DL - “O Infante” tem apenas quatro ingredientes: Tanqueray N° Ten de Chouriço, Ketel One de Sardinha, Colheita Tardia e Dashi Português. Se eu retirar qualquer um destes ingredientes deixa de ser um cocktail equilibrado, todos eles são a chave crucial.




- Qual a tua motivação para teres participado neste desafio da "World Class"? Já tinhas participado noutros desafios? Como tem sido o teu percurso de barman e como é que este influencia as tuas criações?

DL -  Eu sempre quis participar nesta competição, este ano surgiu a oportunidade e os temas são fantásticos. As "técnicas de cozinha" e "sustentabilidade” são temas que já fazem parte do quotidiano de qualquer pessoa que trabalhe no Red Frog.
Já participei noutros desafios diferentes, cada um deles ajudou-me a melhor e a aprender com os meus próprios erros.
O meu percurso como barman tem sido num sentido único: trabalho, estudo, erro e aprendo todos os dias com as pessoas com quem trabalho e lido diariamente.

- Para terminar onde é que podemos provar esta e outras criações da tua autoria?

DL - Podem vir de segunda-feira a sábado à Rua do Salitre 5A e tocar à campainha por debaixo do grande sapo vermelho, que diz "Press for Cocktails", não só para provar cocktails da minha autoria, mas sim de toda a equipa do Red Frog Speakeasy,. Estamos a entrar na recta final do menu que foi premiado como a "Melhor Carta de Bar" dos prémios do Lisbon Bar Show 2018, por isso corram.