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Soão - Do Oriente até Alvalade.

Longe das ruas da ribalta mas numa das zonas mais nobres da cidade de Lisboa está um restaurante que é o ponto de partida perfeita para uma viagem a toda a Ásia. É do bairro de Alvalade, um dos mais históricos da nossa cidade, que nos chega uma brisa exótica e inconfundível que carrega os aromas intensos de paragens distantes. O Soão não é mais um restaurante Asiático em Lisboa, o Soão é o que faltava a Lisboa para ter parte da Ásia dentro de si. A descoberta começa aqui.


Mal entramos pela porta a viagem começa. Às mesas do Soão chegam pratos e bebidas de destinos longínquos mas também a cultura gastronómica de antigos povos. O que se come, como e quando se come. Japão, Índia, China, Vietname, Tailândia e Coreia do Sul são os primeiros países que integram o itinerário de uma viagem encabeçada pelo chef executivo Luís Cardoso. O Luís vem de berço de ouro no toca à gastronomia oriental, ou japonesa, mais concretamente. Foi o primeiro português a assumir os comandos do lendário Aya, do mestre Takashi Yoshitake, um ícone da cozinha nipónica em Lisboa. Nessa altura, confirmou o que já sentia: que o seu futuro haveria de passar sempre pela cozinha asiática, por proporcionar um contacto mais directo com o cliente, para quem se cozinha ao momento e in loco.



A decoração é o espelho do conceito do restaurante: pormenorizada, com bom gosto e com peças únicas e de origem, onde também se destaca o trabalho de alguns dos melhores artistas e artesãos portugueses. Em cada detalhe, uma breve memória de lugares míticos; a cada passo, um pequeno mistério e uma descoberta. No Soão, não há duas experiências iguais. O primeiro piso, térreo, está praticamente na rua, apenas uma grande janela separa a vida da cidade do rebuliço no interior do Soão. À entrada, Fujin, o deus japonês do vento, dá-nos as boas-vindas. Podíamos estar num dos bairros típicos de Osaka, Shangai, Banguecoque, Tóquio ou Hanói, com os cheiros, a azáfama e o desassossego próprios de uma taberna asiática, mas estamos em Lisboa, num dos restaurantes mais vibrantes da cidade.



Na sala, os perfumes das especiarias misturam-se com os sons da arte de cozinhar e com as conversas dos clientes sentados ao balcão de robata, o epicentro do restaurante e o poiso habitual do chef Luís Cardoso, que corta, grelha e prepara alguns dos pratos da carta à vista dos convivas. É precisamente na área adjacente ao balcão que funciona o sushi bar do Soão. Na sala brilha também o espírito hospitaleiro de Sara Freitas, a Head Hostess, que nos recebe sempre com um sorriso natural de boas vindas. Sérgio Galego, o Manager, completa este trio de ouro que nos ajuda a carimbar o passaporte para uma viagem única de sabores irreverentes e surpreendentes.


Com 30 lugares (14 deles ao balcão), a sala vive da agitação associada a uma típica taberna e está decorada a preceito. Entre barris de sakês, lanternas de papel, gaiolas de aves, gravuras kakemono e mil e um objectos que trazem a autenticidade da cultura oriental destaca-se o aquário situado junto ao balcão, desenhado em exclusivo por Fernando Ribeiro, o grande especialista mundial em aquários. Dali saem as lagostas, os camarões e os lavagantes para as criações do chef. Entre tantos ornamentos, um letreiro de néon instalado numa das paredes junto às escadas quase passa despercebido mas dá conta de algo mais, de um piso inferior.


Um corredor estreito e pouco iluminado dá acesso ao bar e a quatro compartimentos reservados, cada um com uma decoração e luz próprias e com capacidade para seis a oito pessoas. Nas salas Kimono, Bambu, Seda e Veludo o mistério também se senta à mesa. Todo o ambiente deste piso, com os seus vermelhos profundos, os dourados velhos e os painéis de madeira habilmente recortados à mão pelo artesão Luís Souto, remete para um certo luxo decadente. Uma sensualidade ténue e inebriante paira no ar e o olhar atento do dragão que o ilustrador e tattoo artist Miguel Brum gravou numa das paredes não deixa ninguém indiferente.


No piso inferior encontra-se também a cozinha de Buranet Pornthep, o Sous Chef, e o bar de Vasco Martins, o Head Bartender. Tep, como é tratado pelos colegas, nasceu na Tailândia mas tem um conhecimento gastronómico que se estende a outras latitudes. Há dez anos em Portugal já trabalhou ao lado de Leonel Pereira nos restaurantes São Gabriel (1* Michelin) e Thai Garden, ambos em Almancil. Natural de Tavira é à música que Vasco vai buscar a energia diária mas também a inspiração para criar diferentes cocktails com aromas que despertem os sentidos. Iniciou a sua carreira no Farol Design Hotel, em Cascais, e trabalhou, em dois momentos distintos, no Bairro Alto Hotel, no Chiado. Porém, a sua grande escola foi Barcelona: lá viveu e trabalhou durante longos períodos, em vários bares da cidade, antes de regressar a Portugal para abraçar o projecto Soão e apresentar a Lisboa uma cocktelaria cheia de sabores e aromas asiáticos, onde os destilados e as especiarias vivem em perfeita harmonia uns com os outros.


Mas está na altura de irmos até à mesa. A carta é apresentada. Perdão, as cartas. Temos carta de sushi e sashimi, carta geral onde estão as entradas, as sopas, os gua baos, os dim sum e as recomendações do chef; e por último a carta de bebidas que contemplam os chás, os cocktails de autor, os clássicos reinventados, os sakês, os soju, os baijius e os vinhos. Oferta para todos os gostos, palatos e estados de espírito. Sérgio assume funções e dirige-se à mesa para esclarecer qualquer dúvida que haja. Explica também que além de toda a oferta, ainda existem as opções do dia. Matéria que se adquiriu no mercado, fresca e pronta a ser confeccionada pelo Chef Luís.


Para começarmos e vindo diretamente da robata, umas vieiras em chamas que terminam de cozinhar na mesa com cogumelos shitake e um caldo de se beber até ao fim. Seguiu-se uns dim sum com uma massa esplêndida e generosamente recheados por champanhe, lavagante e gambas. No que diz respeito ao sushi o mesmo não podia ter ficado de fora. A sugestão de Sérgio caiu numa seleção de gunkans por parte do chef e difícil mesmo foi eleger aquele que era o mais guloso. Ingredientes da melhor qualidade trabalhados com a melhor técnica, tem de resultar em algo digno dos deuses. Do bar, Vasco surpreendeu também com as suas sugestões. Primeiro com dois cocktails equilibrados e intensos, que fizeram o pairing perfeito com os pratos até agora degustados. Principal destaque para o Nikko, um subtil cocktail com Nikka from the barrel, momo, yuzu, clara de ovo para lhe conferir a textura necessária, soda e biltre de cereja; para o Saigão, um cocktail intenso onde o Whisky Amrut se funde ao Gin Opihr, luxando, biltre de chocolate e laranja e xaropeie três pimentas. Mas o mais surpreendente foi sem dúvida o Xangai, onde a aguardente chinesa e a dragon fruit se envolvem com um xarope de mão de buda e outro de ostras. Um sabor intenso a mar que casa bem com qualquer prato de pescado.


Voltamos aos pratos e para aconchegar escolhemos um Pad Thai de camarão. Uma fina massa de arroz salteada com ovo, camarão, cebolo, amendoim, rebentos de soja e tamarindo. Não os provámos a todos, mas este é sem sombra de dúvidas o melhor Pad Thai que já provámos em Lisboa. Para finalizar esta fantástica viagem, não podíamos deixar passar o gua bao de barriga de porco, coentros e courato, bem como a seleção de sashimi do chef. Sem dúvida que não foi uma escolha doce mas foi a escolha perfeita para finalizar uma das refeições mais surpreendentes que fizemos este ano.


O Soão está aberto todos os dias, sendo que de segunda a sexta funciona das 12h30 às 15h30 e das 19h30 às 23h (estendendo-se até às 24h à sexta); sábado das 12h30 às 24h e domingo das 12h30 às 23h. É recomendado que se faça reserva para o 21 053 4499, contudo clientes sem a mesma são bem vindos. Agarrem os vossos passaportes e deixem-se levar neste viagem de sentidos.

Bom apetite.