Não foi a primeira nem será a última vez que José Avillez arrisca em parcerias ousadas mas que mantêm a integridade da sua cozinha. É no número 13 da Rua Nova da Trindade que se encontra o Rei da China. Se este nome não vos diz nada ou remete apenas para comida rápida e de take-away, é atrás das cortinas que chegamos ao bar speakeasy que serve a Casa dos Prazeres situada no primeiro andar do mesmo.
Fotografia de Duarte Drago |
No leme encontra-se Estanislao Carenzo, um argentino especializado em comida Asiática e que abraçou o projeto sem pensar muito e que para lá das portas de serviço do primeiro espaço se encontra uma cozinha que explora e aprofunda a ligação gastronómica entre o nosso país e todo um continente Asiático repleto de novos aromas e sabores.
Fotografia de Duarte Drago |
Uma cozinha autêntica, num ambiente acolhedor e sedutor. Digamos que a entrada é secreta, como se de um restaurante clandestino se tratasse, pois não tendo porta para a rua, temos primeiro de entrar no Rei da China para depois descobrirmos um conceito inovador de restauração. Assim é o bar e restaurante Asiático Casa dos Prazeres. O acolhedor bar remete-nos diretamente para os speakeasy da altura da lei seca. Pouca luz mas com todo o conforto necessário para que nada nos falte, as bebidas de autor destacam-se pelo pairing que fazem com os pratos servidos no andar de cima. Twist a clássicos bem conseguidos de modo a que os sabores originais estejam bem presentes mas trazendo algo de inovador como que se de uma assinatura se tratasse. Destaque para o Gimlet Lisboeta que usa ginja na sua confecção e garnish trazendo um pouco de doçura ao seco do gin; e também para o Shogun Oaxaca, ideal para os amantes de sabores intensos onde a tequila e o mezcal se destacam no meio da lima e do chilli.
Mas vamos subindo as escadas que a fome já aperta. Chegando à sala deparamos-nos com paredes pinceladas a preto como se de uma tela se tratasse. As mesas em madeira lacada de tons vermelhos contrastam com as cadeiras em palha e abraçam de um modo natural os lugares corridos encostados às paredes em veludo também ele de cor vermelha. Na mesa um elegante jogo de copos de água e vinho e um suporte de “Hashi” em forma de panda aguardam pelos pratos escolhidos.
A carta apresenta novas entradas para partilhar. Do Vietnam, os rolos frescos de massa fina de arroz recheados com batata doce assada, pickes vietnamitas e ervas; da China os Wontons cozidos a vapor, recheados com frango e camarão e servidos na capoeira de bambu; e da Malásia, os Pastéis vegetarianos fritos, recheados com caril suave de cogumelos e legumes. Destaque especial também para o kinilaw das Filipas que apesar de não ser novo vem apresentado de uma forma diferente. Muito semelhante ao ceviche, este prato é como que se de um carpaccio de peixe branco numa marinada de lima, gengibre e chalota se tratasse. Frescura e sabor a cada garfada.
Das entradas saltámos diretamente para os pratos sem passar pelas sopas, contudo para quem gosta de aconchegar o estômago antes das garfadas principais, destacamos a da Tailândia: o caldo rico de marisco, aromático e quente para os dias que se avizinham, com caranguejo, lima e legumes de época. Dos caris, e também da Tailândia, recomendamos sem dúvida o de pato. Caril vermelho com uma coxa de pato devidamente bem cozinhada, onde só com o auxílio da colher conseguimos separar a carne do osso. O molho em si com leite de coco, beringela pequena, uvas brancas e malagueta vermelha grande é uma explosão de sabores no palato mas que não se torna demasiado picante, desde que não comamos as malaguetas. Acompanha com arroz de jasmim.
Do Vietnam optámos por uma espetada de porco preto na brasa, onde o cachaço de porco preto também excelentemente grelhado é acompanhado por uma fina massa de arroz e molho de lima. Ficou por provar: da China o peito de porco agridoce de Sichuan, uma carne muito macia, em duas cozeduras, com molho de vinagre preto, cebola, gengibre e alho; e da Indonésia os noodles com carne de vitela no wok, onde os noodles de trigo são salteados com tiras de alcatra de novilho, legumes e ovo biológico.
Para terminar em beleza, ainda arranjámos espaço para provar duas das novas sobremesas, o flan filipino, servido com sorvete de goiaba e a cassata de Goa, com pão de ló de matcha e gelado em camadas, sob uma crosta de nozes pecã, sementes e figos secos.
A Casa dos Prazeres está aberta de terça a sábado das 19 às 24h, sendo que o bar funciona nos mesmos dias mas até às 2h. O valor médio dos cocktails rondam os 9€ e de uma refeição os 50€ para duas pessoas já com bebida incluída. Recomendamos reserva para o 211342160.
Bom apetite.