Foi no século XV que de Belém homens curiosos e astutos saíram nas suas embarcações em busca de novos mundos. Desses mundos trouxeram cultura, alimentos, especiarias e toda uma panóplia de itens que ainda hoje são usados. João Magalhães Rodrigues não foi um desses homens. Atualmente Chef de cozinha num restaurante à beira Tejo erguido e que muito tem orgulhado os portugueses. De nome Feitoria, homenageando os locais que funcionavam como entrepostos para trocas comerciais, João serve a portugalidade à mesa e dá a conhecer a mesma a todos os seus clientes e Chef's convidados.
Falemos um pouco de uma equipa que há muito trabalha junta e cada elemento é como se de um pilar base se tratasse. João Rodrigues é o timoneiro e Almirante que comanda toda a cozinha. André Cruz é o capitão e sub Chef da mesma e André Figuinha é o sommelier que nos vai mantendo a todos hidratados. Tanto na cozinha como na sala as coisas fluem com naturalidade. Os tempos, as apresentações, as explicações, tudo em sintonia sem erros nem hesitações, uma lição bem estudada que só se consegue com árduo trabalho e muito empenho de todos.
Falemos um pouco de uma equipa que há muito trabalha junta e cada elemento é como se de um pilar base se tratasse. João Rodrigues é o timoneiro e Almirante que comanda toda a cozinha. André Cruz é o capitão e sub Chef da mesma e André Figuinha é o sommelier que nos vai mantendo a todos hidratados. Tanto na cozinha como na sala as coisas fluem com naturalidade. Os tempos, as apresentações, as explicações, tudo em sintonia sem erros nem hesitações, uma lição bem estudada que só se consegue com árduo trabalho e muito empenho de todos.
O espaço é amplo e convidativo. A sala composta por cerca de 40 lugares, divididos por mesas de duas ou quatro pessoas, é espaçosa e confortável. As cadeiras onde nos sentamos mais parecem poltronas que nos fazem antever as largas horas que vamos passar sentados nelas. As toalhas em bom algodão, com o nome do restaurante bordado a dourado bem no centro da mesma, dão o último toque formal a um espaço simplesmente perfeito. Mas sentemos-nos e passemos à refeição que já estão à nossa espera.
Verdade seja dita, estas refeições são muito mais que pratos de comida, são experiências sensoriais e merecem ser levadas ao máximo e mostrar a todos o respeito que se tem pela matéria que se confeciona e se come. É esta a verdade do Feitoria, é este o produto que nos servem e que vem à mesa em bruto, para nos dar a conhecer o que vamos comer. Existem dois menus distintos, o menu terra de quatro pratos e o menu matéria, com as versões de quatro ou seis pratos. Todos os menus têm um pairing de vinhos sugeridos por André Figuinha, mas se não quisermos optar pelas escolhas do sommelier, a vasta garrafeira do espaço não nos vai deixar ficar mal.
O flute é colocado à nossa frente e Champagne Billecart-Salmon escorre com fervor da garrafa para o mesmo. Esta foi a escolha de André Figuinha para acompanhar a sequência de snacks com a qual abrimos o repasto e que arrancou com um crocante de grão de bico, toffee e amendoim e com um pequeno pão de queijo, tomate seco e azeitona. Seguiu-se um trio de snacks onde as clássicas pedras vivas não podiam faltar, seguidas de imediato por uma tartellete de camarão de Espinho e alho francês e de uma leve tosta de pão grelhada com papada de porco e bolota. Por último e servindo de ponte aos sabores mais intensos que estavam para chegar, uma interpretação de bacalhau com couves fecha com chave de ouro a sequência dos snacks.
É da Quinta de Sant'Ana que nos chega o próximo vinho. Um Riesling 2014 da região da grande Lisboa é colocado no copo e a primeira entrada é servida. Beterraba, enguia fumada e queijo fresco de cabra, tudo em harmonia num prato intenso de sabor, mas bastante equilibrado, sendo que o queijo faz a ligação perfeita entre a "terra" da beterraba e o "fumo" da enguia. Um breve momento de pausa e a matéria vem até nós pela primeira vez. A equipa de sala traz uma tábua com uma lula gigante dos Açores para que conheçamos a matéria prima que irá estar representada em força no prato que se segue. Lula gigante dos Açores salteada e tártaro de atum rabilho também daquele Arquipélago tão rico em pescado chegam de mãos dadas à mesa, acompanhados de rabanetes biológicos da Quinta do Poial e regados com um caldo feito da própria lula. Um prato cem por cento português, mas onde se sente a tendência da cozinha asiática.
A matéria volta a chegar à mesa e desta vez acompanhada por um momento de autêntico live cooking. Nunca a expressão inglesa de "less is more" fez tanto sentido. Carabineiro do Algarve devidamente bem cozinhado e regado ao momento com os sucos extraídos das suas cabeças acabadas de prensar à nossa frente. Como poderíamos melhorar esta experiência? A única coisa que nos surge era termos sido nós a rodar a prensa, fora isso é muito provavelmente o grande prato desta refeição e muito provavelmente um dos melhores pratos que iremos comer em 2018. Para terminarmos o momento dos mariscos e antes de chagarmos ao prato de peixe, é nos servido um arroz carolino com berbigão, amêijoas, perceves e salicórnia queimada. Todo um "mar" de sabor a cada garfada que damos e onde a salicórnia traz não só a salinidade, como o sabor intenso do prato. Ambos os momentos foram acompanhados por um Vinho Verde Alvarinho da Casa Capitão-Mor Reserva 2015, que nos apresentou a frescura ideal para os degustar.
Um Quinta do Valdoeiro Reserva Bairrada de 2010 sai da garrafa para um novo copo. Um tinto para abraçar um peixe, que veio até à mesa para se apresentar. Um grande robalo de Peniche na travessa e os caranguejos da Lagoa de Óbidos ainda vivos na taça, suscitaram o interesse de toda a sala. Conhecer a matéria que nos vai ser servida é algo único e que toda a equipa do Feitoria faz questão de passar aos seus clientes. Regressam à cozinha e pouco tempo depois lá voltam eles, devidamente cozinhados. O robalo no seu esplendor de cozedura, uma açorda de ovas com gema a baixa temperatura, folhas da estação e molho extraído dos caranguejos. Se no prato anterior era como se de todo um mar se tratasse, neste prato são imersões constantes num oceano de sabores. Simplesmente delicioso.
Segue-se a transição do peixe para a carne e Portugal vem até à mesa. Um cozido à portuguesa como só João Rodrigues e a sua equipa nos podiam presentear. Numa elegante chávena o caldo para ser bebido. Em cima, uma tosta adornada de copita de porco preto. Com um aroma forte e uma textura suave e excepcionalmente tenra e suculenta, a copita é o resultado de uma selecção da melhor peça do Cachaço do Porco Alentejano, sendo uma peça com gordura e com um sabor pouco salgado e persistente. Mais uma vez ficamos maravilhados com a simplicidade que se apresenta um prato de excelência.
Pelo Alentejo estamos e pelo Alentejo nos mantemos. Ao copo chega um Arundel Petit 2012 de Joaquim Arnaud, ao prato, a matança do porco. Uma presa de porco ibérico grelhada com coração de alface e uma redução de molho de carne e beterraba, levemente salpicada pelo prato, de modo a representar o sangue da matança do animal. Pode parecer algo dantesco mas quem teve oportunidade de assistir a uma matança do porco, dificilmente esquece todos os cheiros e sabores daquela carne acabada de cozinhar e neste prato tudo isto está representado. Curiosamente falta o fumo que outrora vinha até à sala, mas que entretanto foi retirado porque alguns clientes se sentiam incomodados. Perdeu-se um pouco de "flair", mas manteve-se o que realmente interessa, o sabor.
Do Alentejo para o distrito de Aveiro, mais precisamente Arouca, de onde um corte de arouquesa premium grelhada se apresenta perfeitamente acompanhada de puré de batata e cebola, acelgas e uma redução de crosta de tutano. Mais um prato cheio de sabor e onde se aproveita tudo. Ideal para amantes de carne ou para converter os menos apreciadores em carnívoros devotos.
Saem os tintos da mesa e chegam os generosos, está na altura das sobremesas. No copo um Madeira Verdelho Cossart Gordon de 10 anos e para limpar o palato, um gelado de queijo da Ilha das Flores e pêra bêbeda. Segue-se uma homenagem a Alcácer do Sal, onde um pudim infusionado de eucalipto, um gelado de manteiga e arroz, pinhão e merengue, chegam à mesa, todos provenientes daquela região. Uma sobremesa complexa mas de sabor ligeiro, onde o doce e o salgado estão de mãos dadas e num equilibrio perfeito. A cereja no topo do bolo é a massa de coscurão com gema de ovo, canela e amêndoa que mete o ponto final a este longo repasto.
O Restaurante Feitoria não é um restaurante para todos os dias mas é garantidamente um restaurante para momentos especiais. Os seus menus têm um valor fixo e são de 85€ para o menu terra e de 105€ ou 135€ para o menu matéria, variando entre os quatro e os seis pratos que já havíamos falado. Os pairings sugeridos têm o valor de 45€ para o menu terra e menu matéria de quatro pratos. O menu matéria de seis pratos tem um pairing sugerido no valor de 60€. Na nossa visita foi servido um menu adaptado de modo a podermos provar o máximo de pratos possíveis, e como é habitual a nível de bebidas deixámos-nos ficar pelas mãos de quem sabe.
Numa viagem gastronómica que viajou apenas entre o muito bom e a excelência, a visita ao Restaurante Feitoria é algo pela qual todos devemos de passar nem que seja uma vez na vida. A cozinha de João Rodrigues e o seu respeito pelo alimento é algo de louvar e o mesmo se diz da genialidade de André Cruz, que tivemos os prazer de conhecer no final da refeição e que mais uma vez agradecemos pela confeção deste jantar memorável.
As vossas reservas podem ser feitas para o 210 400 208 ou por aqui. O restaurante funciona de terça a sábado e das 19h às 23h por norma o tempo de espera ronda os 30 dias para obterem uma mesa, por isso não percam mais tempo e marquem já.