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Cinco anos, duas mulheres e uma casa

Estávamos em 2012 quando duas mulheres de fibra decidiram avançar com um projeto cultural, num bairro onde o dia-a-dia ainda vivia da toxicodependência, violência e prostituição. Inês Valdez e Patrícia Craveiro Lopes abriam assim a Casa Independente.


Situada no Largo do Intendente, podíamos dizer que a Casa Independente é só um bar, uma discoteca ou uma sala com uma programação cultural, mas isso seria redutor. Este é, acima de tudo, um sítio de afetos, de partilha, de pessoas. Um espaço que reflete a construção de diferentes histórias e onde as mesmas são vividas e revividas. Um espaço que no próximo sábado dia 21 celebra o seu quinto aniversário com a intensidade de sempre.


Ao longo dos últimos cinco anos, a Casa Independente deu palco tanto a bandas de garagem como a nomes tão conhecidos quanto Ana Moura, Camané, The Legendary Tiger Man, Capicua ou JP Simões. Mas nem só de espectáculos vivem as suas várias assoalhadas: já foi sala de workshop para crianças e ações de serviço educativo do bairro; foi o primeiro ponto de recolha do projeto Fruta Feia; expôs trabalhos de múltiplos artistas, como a fotógrafa multi-premiada Pauliana Valente Pimentel (que também ali dá atualmente um workshop de fotografia intitulado “Narrativas Fotográficas no Intendente”, que deverá culminar com a criação de um arquivo fotográfico do bairro); foi sala de cinema; serviu de cenário para videoclips de bandas como Rodrigo Leão e Linda Martini; é um ponto de encontro para músicos que acabaram por formar bandas residentes (como os Fogo-Fogo); é sala de jantar para os que procuram petiscos descontraídos ao fim do dia.



A música, o bar e a programação continuam, contudo, a ser apenas veículos para a celebração da partilha, palavra que resume a essência desta Casa. A partilha que se vive nos bastidores, no palco, na pista de dança e na decoração, muita dela oferecida por família e amigos que ora trouxeram cadeiras, ora contribuíram com candeeiros e até mesmo banheiras antigas. O que reserva o futuro? Não se sabe. Mas uma coisa é certa para os residentes da Casa Independente: não querem ser só um sítio da moda. Querem continuar a ser eles próprios, despretensiosos, democráticos, sem espartilhos e com a capacidade de fazer sorrir quem ali entra. 



Cinco anos depois, a verdade é que já ninguém tem dúvidas de que afinal aquele foi o projeto certo a abrir no sítio certo, na hora certa. O Intendente tornou-se num género de sala de estar de Lisboa, com a Casa Independente a servir de teto para todos os que por ali passam e passaram durante este período. E o que começou por ser considerado um oásis no meio do lixo, tornou-se num oásis no meio do luxo, embora mantenha como lema as mesmas quatro palavras que serviram de motor de arranque do projeto: inclusão, autenticidade, partilha e energia. Da que contagia.