ATENÇÃO, ESTA MENU É PARA MAIORES DE IDADE. Agora que já captámos o vosso interesse, vamos falar da refeição que mais nos surpreendeu no últimos tempos. Tudo começou quando Roger Mor desafiou Guilherme Spalk e sua equipa a elaborar um menu gastronómico para incluir na sua peça Alice no País dos Bordéis. A ideia era simples, fazer as pessoas abrir a boca e fecharem as pernas.
A coisa podia ter descarrilado para a banalidade, onde as matérias primas ditas afrodisíacas apareciam prato após prato, onde a libido seria espicaçada através de trocadilhos baratos de um português traiçoeiro, mas não, a criatividade da equipa da Sala Secreta vai muito além destes clichés. Ali banal é chamarem-nos "botõezinhos" que é uma espécie de nome secreto dado às meretrizes que de um modo ou de outro iam parar à Pensão (bordel) da Alice. Mas porque estamos sempre a falar da Alice? É simples, ninguém come na Sala Secreta, sem antes assistir à atuação ora da Sofia de Portugal, ora do Francisco Beatriz (em sessões diferentes) que nos contam como era vivida a vida num bordel, na altura em que o então Chefe de Estado Salazar os mandou encerrar. Tudo passou a ser clandestino e é ao clandestino da Pensão Amor que descemos para viver toda esta experiência.
A coisa podia ter descarrilado para a banalidade, onde as matérias primas ditas afrodisíacas apareciam prato após prato, onde a libido seria espicaçada através de trocadilhos baratos de um português traiçoeiro, mas não, a criatividade da equipa da Sala Secreta vai muito além destes clichés. Ali banal é chamarem-nos "botõezinhos" que é uma espécie de nome secreto dado às meretrizes que de um modo ou de outro iam parar à Pensão (bordel) da Alice. Mas porque estamos sempre a falar da Alice? É simples, ninguém come na Sala Secreta, sem antes assistir à atuação ora da Sofia de Portugal, ora do Francisco Beatriz (em sessões diferentes) que nos contam como era vivida a vida num bordel, na altura em que o então Chefe de Estado Salazar os mandou encerrar. Tudo passou a ser clandestino e é ao clandestino da Pensão Amor que descemos para viver toda esta experiência.
Peça terminada e só os botõezinhos mais destemidos (leia-se os que compraram o bilhete completo) passam à Sala Secreta e aí sim Alice, entrega-nos a Guilherme, para que este com toda a sua conversa, comida e bebida, nos conte o resto da história, nos abra a boca e nos deixe com ela aberta. À volta do balcão estão dispostas as cadeiras onde nos sentamos e atrás do mesmo a equipa de 4 pessoas comandadas pelo Chef Guilherme. No balcão já se encontram caixas de antigamente com algumas recordações da altura, uma espécie de manual de instruções para nos ensinar, por exemplo, "a comer banana", entre outras coisas. O pão, guardanapo e os primeiros talheres também já encontram postos. Somos convidados a sentar e Guilherme rapidamente apresenta a sua equipa. Um blanc de blancs de Luís Pato é-nos servido bem fresquinho, para nos arrefecer os calores e as vergonhas que ainda estejam por ali. As instruções são simples, sempre que o sino tocar, será servido um novo prato, quem quiser sair seja para fumar ou para satisfazer uma necessidade fisiológica, deverá avisar entre pratos, para que seja feita uma pausa e o serviço prossiga de igual modo para todos e ao mesmo tempo.
Apresentações e regras feitas, chega à mesa um creme (queijo de azeitão), um blush (manteiga de açafrão e pinhão torrado) e um batom (mexilhão à espanhola), em suma o nosso preliminar, pois a madame não nos quer desarranjadas, muito pelo contrário, quer sempre os seus botõezinhos lindos e maravilhosos. Sem esperarmos muito, somos introduzidos ao despertar dos sentidos, onde uma caixa, sim, aquela secreta que todos temos e que todos negamos, vem recheada com três miniaturas que passaríamos o dia a comer. Foie gras com peta-zetas, ceviche de corvina com broa e para terminar um churro com aioli de alecrim. Um a um e à mão, saem da caixa para a nossa boca. A mini beringela levemente frita com sementes de papoila e regada de molho miso com açúcar e ovo termina as entradas de um modo apoteótico, onde no fim somos convidados a chupar os dedos (os próprios, ou os de quem nos acompanha).
Terminada esta fase mais tátil, onde as mãos servem para tudo, no copo é servido o primeiro branco. "Automático" do Dão, entra nos nossos copos com as suas notas frescas e cítricas, contrabalançando com o fogo da paixão que o sashimi de atum com o sangue de touro (molho de beterraba assada com sake, yuzu e toda uma panóplia de sabores orientais), acompanhado por pickle de ruibarbo, nos traz ao palato. Segue-se uma breve pausa para nos ensinar o que fazer com a língua. O beijo francês traz-nos um linguado sobre uma cama de puré de espinafres, uma ostra fumada, salicórnia e um pó de chá verde. Pés na terra e cabeça perdida em sabores que nos são tão familiares que, bem....fiquemos por aqui. Limpemos o palato e enfiamos a boca naquilo. Um caldo de cogumelos com legumes, cebola, miso, pak choi e gema de ovo, para os mais destemidos o picante é acrescentado na altura e o que nos vale é mesmo o "Automático" do Dão que nos baixa a temperatura.
Snacks, entradas, peixe e mais peixe, vinho branco, mas nada nos tira o desejo carnal. Troca de copos e um "Mau Feitio 2013" do Douro apresenta-nos o prato de carne. A sua complexidade e mineralidade, são o casamento perfeito com o faisão, as amêndoas, o bolbo de aipo e o milho doce. Um prato também ele complexo e onde a deliciosa carne de faisão, lentamente cozinhada, ganha um textura e sabor único, rematando da melhor maneira os pratos salgados. Por esta altura os complexos já se perderam, a timidez há muito que saiu da sala e os começais, mesmo que não se conheçam, já falam uns com outros sobre todo e qualquer assunto, sendo o assunto predominante este maravilhoso menu. Voltemos à carga e uma venda em veludo é colocada à nossa frente. Pedem que a mesma seja colocada nos nossos olhos e que estendemos uma das nossas mãos. Não receiem, só nos vão por aquilo na mão.
De mão estendida é-nos servido em textura de mousse e geleia, amora, morango e figo seco. De uma assentada e de olhos vendados, levamos a mão à nossa boca, ou à boca de quem nos acompanha, fica um pouco ao critério do freguês. Uma pré-sobremesa perfeita que nos leva ao orgasmo final e onde o chocolate, o doce de leite e o limão terminam as honras da casa, devidamente acompanhados por um Porto LBV da casa Anderson. Por fim o café, as mignardises e mais uns dedos de conversa.
Com formação feita em restaurantes de fine dining, Guilherme Spalk surpreende-nos em cada momento, utilizando um produto de qualidade, confecionado au point. Se há projetos que merecem a nossa atenção este é certamente um deles, mas despachem-se que não dura para sempre, a Sala Secreta estará na Pensão Amor até finais de Outubro, depois poderá partir para novas paragens, com outro conceito, mas sempre a surpreender. O valor do jantar tem o preço unitário de 69€, inclui a peça de teatro e todas as bebidas. Para quem não bebe álcool, existe harmonização com sumos caseiros pensados para cada prato.