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Era uma vez o L’éclair

Esta é a história de Matthieu Croiger e João Henriques, ambos lusodescendentes. Tudo começou à três anos quando Matthieu e João ainda moravam em Paris e da noite para o dia fizeram as malas e rumaram a Portugal para um pouco mais tarde abrirem o seu espaço no nº 44 da Avenida Duque de Ávila, em Lisboa. Falamos do L'éclair.



“Comer num ápice” seria a forma mais correta, em português, de definir o curto tempo que um éclair dura intacto na mão do seu consumidor. Em duas dentadas, este ex-líbris da pastelaria francesa desaparece e é graças a essa rapidez que ganhou o nome pelo qual é conhecido. Toda a poesia e magia que um bom éclair carrega está representada da melhor maneira na L’Éclair, uma pastelaria francesa que abriu em 2014, na zona do Saldanha e que não passa despercebida a ninguém. Mas como é que dois parisienses decidem da noite para o dia rumar a Lisboa e apostar em algo que poderia ser um total fracasso, principalmente na altura da crise financeira em 2014? Bem, Matthieu já tinha a experiência de gestão hoteleira, adquirida É formado em Hotelaria e Restauração e especializou-se e Gestão e Marketing. João aprendeu tudo sobre pastelaria na Êcole Grégoire-Ferrandi, liderou várias secções de pastelaria de restaurantes e trabalhou numa das melhores empresas de catering francesas, a Fleur de Mets. Juntaram a experiência e vontade que trouxeram com eles, ao investimento de capital próprio, pois apesar de terem feito um plano de negócios e de terem pedido alguns créditos, ninguém os apoiou. “Todos acharam que éramos loucos por querer abrir um negócio num momento de tanta crise. Só a família e amigos estavam do nosso lado. Agora que temos provas dadas, são os bancos que nos telefonam”, desabafa Matthieu.



Sendo a pastelaria francesa tão minuciosa e criteriosa, a sua fama começa na escolha dos ingredientes usados em cada especialidade. De fabrico próprio e à mão, com uma textura crocante e uma conjugação de sabores que difícil mesmo é escolher o "certo". O que é certo é que os ingredientes frescos são na sua maioria portugueses. Limão biológico, framboesas alentejanas, laranja do Algarve, entre outros. Os restantes ingredientes seguem os princípios da pastelaria francesa e são sempre os melhores do mercado. É o caso do pistáchio do Irão, a avelã de Piemonte, chocolate Valrhona, considerado um dos melhores chocolates do mundo, e a baunilha que provinha de Madagáscar, mas que devido à sobrevalorização da mesma, agora provêm do Tahiti. As natas e a manteiga são da marca francesa Elle et Viere por conterem a percentagem de matéria gorda ideal para a confeção das massas folhadas e chantilly. Tudo, desde o praliné, a maçapão, à pasta de pistáchio, à massa folhada, que é um dos produtos mais trabalhosos e demorados de fazer em pastelaria, é feito à mão e de raiz no L’Éclair. Até o pão de forma utilizado no Croque Monsieur, uma novidade salgada da carta, é feito por João Henriques e a sua equipa.



Mas e afinal quem são as estrelas da casa? É sem dúvida o éclair que se destaca. A sazonalidade dos ingredientes é fator fundamental para manter a qualidade dos mesmos, o que obriga a que a cada estação se lancem novas coleções com receitas que são testadas durante meses. Pela vitrina de éclairs já passaram Caramel au Beurre Salé,  Grand Cru Caraibes, Créme Brulée, Tiramisú, Pistache Framboise, entre muitos e muitos outros. A colecção Outono/Inverno 2016/2017, lançada no dia 1 de outubro, conta com oito éclairs totalmente novos e dois clássicos apresentados de uma forma diferente. São eles o Paris-Brest, o best seller da casa, inspirado no doce francês homónimo, criado em 1910 como forma de comemorar a volta em bicicleta entre Paris e Brest. O bolo original tem forma redonda para se assemelhar à roda do velocípede, mas aqui a receita é adaptada ao éclair com o praliné como ingrediente principal. O outro éclair que não sai da carta é o Limón, que na nova versão é feito com creme de lima e limão caseiro, ganache de limão e lima, crumble de avelã e suspiro de coco. Os novos éclaires são: Cappuccino, Cheesecake, Tainori, Saint-Honore, Tatin, Foret-Noire, Nougat e Framboise-Matcha. Apesar de Matthieu e João terem começado apenas com éclairs, os pedidos dos clientes levaram ao aumento da oferta para croissants folhados, macarons, caracóis, pain au chocolat e outros doces como as tartes de fruta, operas e mil-folhas. Os próprios éclairs tornaram-se salgados para o almoço e levam recheios como magret de pato, foie gras ou salmão. Os preços variam entre os 2,60€ e os 4,80€ e apesar de ser um valor um pouco acima da média, vale a pena cada cêntimo gasto.