Porque também há vida fora de Lisboa, rumámos até norte para descobrir as melhores cozinhas da cidade Invicta. É no antigo Solar do Vinho do Porto que se encontra o Restaurante Antiqvvm. Liderado por Vitor Matos, desde 2016 que é detentor (com todo o mérito) de uma estrela Michelin. Produtos de época e maioritariamente locais é o que a equipa de cozinha trabalha e nos coloca diariamente na mesa. Prontos para desapertar o cinto e embarcar connosco nesta refeição? Venham daí.
De braços abertos. Foi esta a forma como fomos recebidos pela equipa de sala. Encaminharam-nos ao lugar. Uma mesa quadrada, grande o suficiente para estarmos à vontade, mas acolhedora de modo a que possamos falar durante a refeição num tom de voz normal. Como música de fundo um jazz ligeiro toca pela sala. Sala essa muito bem aproveitada por debaixo de umas arcadas cujas janelas permitem visualizar um Porto, do alto e sobre o rio. No chão, uns grandes tapetes em tom de esmeralda, cor essa que se repete nos confortáveis cadeirões nos quais nos sentamos e que transmitem conforto e calor ao espaço.
Mas passemos à ementa que aí é que a coisa se torna mesmo muito interessante. Dois menus de assinatura são apresentados do lado esquerdo da mesma. "Tradição Renovada" foca-se mais na gastronomia típica e no produto local, sendo que toda a confeção é digna da estrela que a cozinha e o Chef detêm . "Ensaios Sensoriais" é onde Vitor Matos vai buscar toda a sua técnica e experiência, abrangendo um maior leque de produto e técnicas diferentes de confecionar os mesmos. À direita, a escolha a prato devidamente dividida em entradas frias, quentes, pratos de peixe, de carne, sem esquecer opção vegetariana e até mesmo uma ou duas sopas dignas de uma carta Michelin, algo que não é comum encontrar neste tipo de restaurantes em Lisboa.
De braços abertos. Foi esta a forma como fomos recebidos pela equipa de sala. Encaminharam-nos ao lugar. Uma mesa quadrada, grande o suficiente para estarmos à vontade, mas acolhedora de modo a que possamos falar durante a refeição num tom de voz normal. Como música de fundo um jazz ligeiro toca pela sala. Sala essa muito bem aproveitada por debaixo de umas arcadas cujas janelas permitem visualizar um Porto, do alto e sobre o rio. No chão, uns grandes tapetes em tom de esmeralda, cor essa que se repete nos confortáveis cadeirões nos quais nos sentamos e que transmitem conforto e calor ao espaço.
Apesar de nos ter sido servido o menu "Tradição Renovada", o Chef fez questão que provássemos também um ou outro prato do menu "Ensaios Sensoriais", presenteando-nos assim com aquele que tinha sido o prato que nos despertou o interesse pela sua cozinha e que nos havia sido servido no jantar de encerramento da Rota das Estrelas", mas já lá vamos. O repasto começa com os snacks, onde uma reinterpretação de bacalhau de escabeche com pimentão fumado e coentros; amendoim com queijo da serra e marmelo; corneto de truta, queijo fresco e cebolinho; trufa de alheira de caça e camarão em brik com caril e chutney, são-nos servidos juntamente com pão da casa, manteiga, azeite e balsâmico para molhar o mesmo. No copo é servido um Murganheira Chardonay Bruto 2015 que nos acompanhará pelas entradas frias.
Entradas essas que começam com o "Intemporal", o tal prato que não pertence a este menu, mas que nos apaixonou desde a primeira garfada em Lisboa. Foie gras, enguia fumada, moscatel do douro, balsâmico velho, pinhões, beterraba, sabugueiro e flores. Pode parecer que são ingredientes a mais mas na realidade é um prato bastante equilibrado, onde o fumado da enguia contrasta em pleno com a gordura do foie gras, onde a doçura do moscatel se encaixa no avinagrado do balsâmico e onde os sabores a terra dos pinhões e da beterraba se deixam envolver pelos sabores florais do sabugueiro e das flores. Seguem-se as "Memórias do Algarve" e que melhor maneira de recordar esse região do que levar o mar à mesa? Lavagante azul, ostra da Ria Formosa, codium, salicórnia, yuzu, lima, citronella e bergamota. Mais um prato cheio de ingredientes e de sabor. O lavagante dispensa apresentações, as ostras da ria idem, agora o caldo feito com a alga codium e o cítrico do yuzu, são sem dúvida uma lufada de sabor e frescura num prato que não queremos que acabe. Em ambas as entradas o Murganheira fez o pairing perfeito.
Passamos para a entrada quente e com esta chega a Caça ao Ovo. Cozinhado a baixa temperatura este ovo é envolto de um caldo de cebola cheio de sabor, ervilhas, queijo da ilha de São Jorge e pão de trufa. Todo o sabor de uma estação numa entrada que nos faz lembrar uma sopa de conforto para os dias mais frescos. E que imagem maravilhosa quando se rompe a membrana do ovo e toda a sua gema se funde no caldo. Um prato que dá vontade de mergulhar na taça, ou de beber da mesma, para que não sobre nada. A acompanhar, um Munda Encruzado, 2015 do Dão.
O primeiro prato de peixe é um Mergulho no Atlântico. Só quem nunca comeu uma boa pescada de mar é que não sabe o sabor que este peixe pode ter. Pescada, lingueirão, agrião e folha de ostra, tudo isto sobre um caldo de peixe assado e vinho do Porto branco. Perfeita comunhão e simplicidade de sabores que acompanharam o copo de Munda Encruzado como no prato anterior.
Chega a vez do tinto e no copo é servido um Quinta de Cidrô Pinot Noir 2014. No prato, servido em Bordall Pinheiro, o fiel amigo. Bacalhau cozinhado a 55º, caldeirada de linguas, brandada, coentros, couves, pimentão fumado e presunto alentejano, apresentados num prato que traz Portugal à mesa. O ponto de cozedura do bacalhau estava perfeito, de tal modo que conseguíamos separar lasca a lasca, sem termos a sensação de quebra das mesmas e sem sentirmos a goma típica. A caldeirada que serviu de molho, confere um sabor extra a um prato intenso mas que é impossível não se gostar.
Da pesca para a caça, a carne toma a mesa de assalto. Pombo, topinambur, legumes e frutos vermelhos compõem um prato rico e onde se destaca o ponto perfeito de confeção da ave, tanto o peito como a coxa estavam macias e carregadas de sabor, mostrando que bem trabalhada, esta é uma carne nobre e digna de qualquer boa mesa. No copo e para enaltecer ainda mais este prato, um Altas Quintas Reserva 2007 do Alentejo.
Terminado os salgados, chega a vez dos doces serem servidos. Primeiro um perfume cítrico e floral, com diversas texturas de citrinos, onde até gomos de lima são usados, gin e flores. Podia ser um limpa palato, mas a complexidade da mesma faz com este prato seja uma digna sobremesa para quem não é muito apreciador de doces. Para quem não passa sem o "momento" doce de uma refeição, a segunda sobremesa é uma verdadeira ode ao Sr. Abade de Priscos. O pudim, fiel à receita tradicional, com a textura devida, a tangerina e a hortelã da ribeira para equilibrar a doçura, o queijo da serra para lhe conferir um toque de sal e por último um pão de ló, tudo isto assente sobre uma redução de Adega Velha XO de 30 anos (confessamos que usámos o pão de ló como esponja para ensopar a mesma, mas quem não o faria?). Uma decadência de açúcar mas que tem mesmo de ser provada. Para acompanhar foi servido um Dalva Moscatel do Douro exclusivo e engarrafado por Vitor Matos de 2015.
Comida substancial e que respeita o produto local. Uma refeição exemplar que se torna numa experiência única. Desde a chegada até ao último momento toda a equipa está atenta ao que se passa e nunca um cliente é deixado por esquecido. Vale sem sombra de dúvida as nossa visita.
O Restaurante Antiqvvm está aberto de terça a sábado, ao almoço e ao jantar. Ao domingo abre apenas para almoço e à segunda-feira está encerrado. O valor do menu "Tradição Renovada" é de 95€ por pessoa, sendo que a harmonização vínica é de 50€ por pessoa. O menu "Ensaios Sensoriais" tem o valor de 125€ por pessoa, sendo que a harmonização vínica é de 70€ por pessoa. Estamos a falar de menus que vão dos 7 a 9 pratos, excluindo os snacks e os petit four finais (ambos os menus apenas são servidos a mesa completa). Na escolha à carta os valores por prato variam entre os 20€ e os 35€ (exclui bebidas).
As vossas reservas devem ser feitas para o 226 000 445.
Bom proveito.