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Fine Dining - LAB de Sergi Arola

Diz-se que uma pessoa é perfeita quando é meio génio e meio louco. Sergi Arola, o distinto Chef, discípulo de Ferran Adrià e Pierre Gagnaire, encaixa-se na perfeição neste conceito. Quem olha para Sergi Arola e não saiba, não diz sequer que ele é Chef de cozinha, muito menos um Chef distinguido pelo prestigiado Guia Michelin. O seu visual descontraído, ao bom estilo de uma "rock star" desvia-nos as atenções, mas os pratos que ele nos coloca na mesa revelam toda a sua identidade culinária.



Foi em 2010 que Sergi escolheu o fantástico Penha Longa Luxury Hotel and Golf Resort em Sintra como sua segunda casa. Na altura abriu o Restaurante Arola (que ainda continua a surpreender), mas foi com a necessidade de inovar e de experienciar cada vez mais que surge o LAB. Tal como o nome indica, o LAB é um laboratório que pretende inspirar a união entre os ingredientes frescos e a boa gastronomia, onde os sabores estão afinados e oleados para proporcionar um experiência culinária única. De ambiente intimista e bastante exclusivo, na sala sentam-se 22 pessoas que têm o prazer não só de estar num espaço que nos transporta numa viagem gastronómica e sensorial, como estão em primeira fila sobre o magnífico campo de Golfe. Nas mesas de madeira redondas não existem toalhas, mas sim uma pele curtida em negro, dando um toque de luxo e de requinte. As cadeiras são autênticas poltronas que nos permitem relaxar enquanto degustamos os pratos ou conversamos com a nossa companhia. Os quadros na parede contam-nos histórias e inspiram pratos do menu e a magistrosa garrafeira em vidro com mais de 550 referências dos melhores vinhos e cognac presentes, conferem um último toque a esta viagem gastronómica, unindo todos os sabores de forma a que cada ingrediente se possa destacar e que todos os aromas e texturas se transformem numa harmoniosa orquestra gastronómica. 



O LAB propõe diferentes menus de degustação, que mudam sazonalmente, bem como opções à carta; todos os pratos contam com uma distinta selecção de vinhos que pretende complementar toda a experiência. Experiência essa que começa mal entramos a porta que nos leva à sala de espera e onde a "hostess" de serviço nos questiona qual o restaurante onde temos a reserva (lembramos que o LAB by Sergi Arola, partilha a cozinha e sala de espera do Arola). Seguidamente explica-nos o conceito do restaurante e mostra-nos a enorme cozinha aberta, onde o Chef residente Milton Anes trabalha com a sua equipa. Entramos na sala e toda a equipa de sala nos cumprimenta e apresenta, deixando-nos mais à vontade para o que quer que seja. Acompanham-nos à mesa, puxam-nos as cadeiras, colocam uma mesa de apoio para as malas de senhora, tudo a preceito, tudo em sintonia. A Joana Silva apresenta-se novamente e diz que ficará encarregue da nossa mesa naquela noite. De seguida apresenta-se o Sommelier Ricardo Santos que de jovem apenas tem a idade, pois o seu conhecimento vínico vai muito além dos mais experientes na matéria. Posto isto, chegou a altura de começar o repasto.



Joana começa a falar-nos na carta, como está dividida e como funcionam os menus. Existem três menus disponíveis: "Descobertas", composto por tapa, entrada, peixe, carne e sobremesa; "Sergi Arola", composto por tapa, duas entradas, peixe, carne e duas sobremesas; e "De Loucura a Loucura", onde experimentamos todos os 16 pratos da carta. Optámos pelo menu Sergi Arola, até porque no meio é que está a virtude. Começámos com um vermute, uma tortilha de batata e um esponja de azeitona, um toque de cozinha molecular para começar a afinar o palato. O vermute, servido num copo de cocktail, era para se comer à colher. Debaixo para cima, de modo a que passássemos por todas as texturas e sabores presentes no mesmo. Já a tortilha e a esponja, comem-se num ápice, mas é isso que se pretende. Seguiu-se a volta a Espanha, uma homenagem ao país de Sergi Arola resumida em snacks, colocados numa ordem específica em cima da mesa e recomendado que se comece pelo centro, seguindo depois os ponteiros do relógio. Assim o fizemos, começando na bocata de calamares, passando para a bomba de la barceloneta, continuando a viagem pelo pastel de atum, batatas bravas e terminando com um cone de camarão. Pequenas porções, para comer de uma só vez, devidamente bem acompanhadas por um leve espumante da Bairrada.



A fasquia já estava alta e a refeição em si ainda mal tinha começado. Numa boa mesa portuguesa não pode faltar pão e manteiga. Mostrando o carinho que sente pelo nosso país, Sergi e a sua equipa criaram algo que ainda não nos saiu da cabeça. Recorrendo novamente à parte molecular da cozinha, é servido uma espuma de pão com manteiga e foie gras para comer à colher. O mais incrível é que sabia mesmo a uma bela carcaça de pequeno almoço com manteiga. Mas como o pão não pode mesmo faltar, chega um cesto com três pães distintos e caseiro, de destacar a bôla que estava somente maravilhosa.




Chegam as entradas e uma leve salada de lascas de lavagante, temperadas com esferas de amêndoas verdes e sorvete de espargos é colocada à nossa frente. Ficámos alguns minutos a olhar para tão bela composição, enquanto degustávamos um leve Vinho dos Açores 2014 de António Maçanita. Lavagante finamente fatiado com espargos é uma combinação super fresca e cheia de requinte e excelência. Seguiu-se uma entrada de carne: moleja de vitela assada em especiarias, puré de abóbora assada à marroquina, cenouras, funcho e jus de laranja com gengibre. No prato vinham apenas os acompanhamentos, as molejas vieram à parte, numa travessa e ainda a fumegar. Sabor intenso e fumado, a contrastar com um Branco Pólvora 2015 do Alentejo.




Enquanto ainda conversávamos sobre as entradas, heis que Sergi Arola vem à mesa para nos servir a asa de raia assada com manteiga de ervas e pés de porco, acompanhada de maça glaceada e creme de feijão preto. Um prato de peixe que é do caraças e onde a leveza da raia encaixa e abraça um fantástico puré de feijão, vertido na mesa sobre o prato. Sabores fortes num prato que se fez acompanhar por um Quinta Poço do Lobo Arinto 1995 das Beiras. Chega a hora da carne e a pintada assada num aji tipicamente peruano, acompanhada por migas de milho e pimentos vermelhos, é o prato ideal para terminar em beleza a parte dos salgados. A carne em dois momentos (peito e coxa) cozinhados na perfeição, com um toque picante que se sente, mas que não incomoda, casam na perfeição com um Casal Santa Maria Pinot Noir 2013 de Lisboa (Adraga), um néctar cheio de mineralidade, crescido em solo perfeito e que equilibra muito bem os sabores do prato.




E como o que é doce nunca amargou, chega a hora das sobremesas. Máquina do tempo e a sardinha viajante são-nos servidas e devidamente explicadas, antes de as mesmas serem provadas. A máquina do tempo é uma homenagem a uma das tatuagens de Sergi Arola que representa um relógio. Uma leve sobremesa cítrica que ajuda a limpar o palato, com a particularidade de os ponteiros marcarem a hora exata a que a mesma é servida. No copo estava um Casal Santa Maria Colheita Tardia 2014. A sardinha viajante, representa os quadros que embelezam a sala de jantar e nos quais estão representadas as paixões do Chef, a cozinha, as viagens e a música. Uma sobremesa que só comendo é que se consegue perceber toda a sua essência e sentido, devidamente acompanhada por um Madeira Bual de 5 anos, que não acompanhou somente a sobremesa, como também acompanhou as mignardises que se seguiram, novamente a volta a Espanha, com a sugestão de consumo inversa à das tapas de entrada. Para terminar em beleza e com os cafés, homenageando o imenso campo de golfe que nos serve de paisagem, duas bolas de golfe de chocolate branco. Tal como um "fortune cookie" a ideia é quebrar as mesmas e ler as lindas mensagens que vêm no seu interior. Pode parecer mentira, mas as nossas fizeram todo o sentido.



É difícil descrever algo que começa logo em excelência mas que prato atrás de prato a qualidade, a apresentação e o serviço é crescente. É como pedir a alguém para contar até infinito, vai-se somando número atrás de número sempre a crescer. O LAB é isto e muito mais. Aberto exclusivamente aos jantares, de quarta a sábado, das 19h30 às 22h30, os valores dos menus variam entre os 95€ e os 130€ sem bebidas, ou entre os 135€ e os 200€ já com os pairings de vinhos. Se optar escolher à carta, o valor ronda os 120€ a 150€ por casal.