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Conversas de Bar - World Class 2017

Alain Branco é um homem do mundo. Nascido na África do Sul, é em Lisboa que mostra os seus dotes com as bebidas típicas do México. Tequila e Mezcal são palavras de ordem no seu dia a dia e principalmente nos copos que nos serve. 



Não temos a menor dúvida que é um dos melhores "Tequileros" do nosso país e que faz as melhores margaritas de Lisboa. Mas as suas criações vão muito além de uma boa margarita. Alain cria e recria cocktails, tenta e inventa o q.b. até atingir a perfeição que vai fazer com que nos surpreendamos. Participou pela primeira vez numa competição e foi um dos seis finalistas do World Class Portugal. Apesar de ser um ninja, não usa máscaras, é uma pessoa pura, genuína e com uma pinta do caraças, mas tirem o cavalinho da chuva o "hombre" é casado.

- Olá Alain, antes de mais o nosso obrigado pela tua disponibilidade. Queríamos começar por perguntar onde surgiu a ideia de participares na competição da World Class?

AB - Como bartender e chef de bar, participar no World Class é uma das melhores maneiras de testar a nossa capacidade. Apesar de que o derradeiro teste é todos os dias atrás do balcão, nas trincheiras. Eu trabalhei na organização de montagem e funcionamento dos bares nos últimos dois World Class, logo decidi que este ano iria competir, que seria mais divertido. E assim foi.

- Fazer cocktails para um menu ou cocktails de autor para uma competição não é o mesmo processo. Para ti em que é que se diferenciam e em que consiste cada uma das criações?

AB - Como esta foi a primeira vez que participei numa competição não sei se consigo responder bem. Mas para mim o processo parece semelhante, no sentido em que o trabalho que fazemos gira muito em torno da vontade que temos de querer surpreender os nossos clientes com criações, com as quais temos alguma relação emocional e que queremos partilhar. Isto é cria-se um impacto que poderá ecoar por muito tempo. O cheiro e o sabor, vão ser gatilhos de memórias, acredito que isso é a magia do nosso trabalho, fazer com que as pessoas viagem no tempo sem sair do balcão.

- Como consegues transpor as tuas ideias e conceitos para o copo?

AB - É muito "trial and error". Começamos sempre por várias  ideias que na altura parecem loucas, mas com tempo cada ideia encontra o seu lugar. O mais importante é o nossa mantra, NADA É IMPOSSÍVEL!



- Sabemos que em competição tudo tem o seu élan, conceito e história. Posto isto, como começou o processo de criação do Parabolic Aperitif e do La Nina Fresa ?

AB - Para a competição foi nos pedido a criação de um cocktail aperitivo e de um cocktail digestivo. Os nomes surgiram no fim da criação pois são derivadas da história que quis contar. 

- Qual a história ou a mensagem por trás dos mesmos?

AB - Como a história por de trás do cocktail que me levou a final, era a viagem de um mexicano até chegar a Marte, decidi manter-me pelo mesmo tema. Desta vez falando das experiências feitas pela NASA no inicio dos anos 70, no que diz respeito a consumo de bebidas alcoólicas a bordo de aeronaves e estações espaciais. Na altura tentaram desenvolver um vinho sherry que não emitisse odores ou cheiros, mas assim que o público dos EUA ouviram esta noticia, boicotaram o projecto e o mesmo nunca viu a luz do dia. No fundo quis mostrar como poderá ser num futuro próximo, beber numa viagem à lua, a um planeta ou estação espacial. O segundo cocktail desenvolveu-se pensado em como seria pedir um cocktail num bar no espaço e como seria o mesmo bar. Com zero-gravidade, usava-se o velcro para agarrar os copos e as pessoas a uma superfície? Seria moderno e futurista ou seria mais semelhante a um Pub para nos relembrar de onde viemos,o planeta Terra?

- Sem ser o Jinzu Gin e o Johnnie Walker Gold Label Reserve e não querendo desvendar nenhum segredo, quais os ingredientes chave que os tornam únicos? 

AB - Para o primeiro cocktail o ingrediente chave foi Jinzu gin, que é ultra floral, perfumado e super delicado que juntei um dos mais especiais ingredientes para mim, Nopal (cacto). Como trabalho com gastronomia mexicana e puramente com Tequila e Mezcal, como a final do World Class irá ser na Cidade do México, achei próprio brincar com este ingrediente, fazendo um bitters de Nopal, camomila e lascas de madeira de barris de whisky; um shrub de Nopal e uma redução de Nopal em xarope de Agave. O segundo cocktail foi feito com Johnnie Walker Gold Label Reserve, um vermute rosso caseiro, um xarope de charuto, sal e pimenta com charutos Guantanamera que sobraram do meu casamento, bitters caseiro de mole de chocolate de Oaxaca com chile Ancho e chile Morita Chipotle e uma tintura de chile Chipotle como também Tepaché caseiro (fermentação de ananás com pilloncillo e cravinho).



- Qual a tua motivação para teres participado neste desafio da "World Class"?, já tinhas participado noutros desafios? Como tem sido o teu percurso de barman e como é que este influencia as tuas criações?

AB - Nunca tinha participado numa competição. Apenas posso dizer que só retirei coisas boas desta mesma, com destaque para a fraternidade e camaradagem entre todos nós que competimos. Todos sempre prontos a ajudar, a acalmar os nervos uns dos outros, emprestar material (esta é para ti Santiago). Em termos do percurso como barman, foi sempre aprendizagem de paraquedas, até chegar ao Pistola y Corazon. Aqui foi-me dada toda a liberdade do mundo para criar, foi aqui que tudo mudou. Limites, fronteiras e obstáculos, simplesmente desapareceram. Foi aqui, já lá vão quase 3 anos, que me moldaram no bartender que sou. Graças ao Damian Irizarry e a Marta la Fea que nunca disseram que algo era impossível. Simplesmente tenta se funciona, funciona. Se não? Tenta outra vez.

- Para terminar onde é que podemos provar esta e outras criações da tua autoria?

AB - Sempre disponível para todos na Taqueria Pistola y Corazon, na Rua da Boavista nº 16 em Lisboa.