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Espaço Espelho D' Água

À beira rio plantado, onde outrora caravelas portuguesas partiram para descobrir o Mundo, bem ao lado do Padrão dos Descobrimentos, encontra-se o Espaço Espelho de Água (EEA). Já foi um clube noturno e um restaurante chinês, mas nem num campo nem noutro conseguiu impor-se. Construído em 1940, durante a Exposição do Mundo Português e localizado no meio de um grande espelho de água, parece ter uma visão de infinito sobre o imenso Rio Tejo, visão esta que foi preponderante na hora de decidir fazer um grande investimento na requalificação e restauro do edifício. É hoje um espaço cultural com uma galeria, sala de espetáculos, loja, esplanada, bar, cafetaria e restaurante incríveis.  


Com uma localização privilegiada, nas margens do Tejo, em Belém, o EEA oferece aos visitantes uma experiência sensorial única tanto pelo design de interiores como pela vista ímpar para o rio e para a encosta do Restelo e da Ajuda. Para além destes fatores, o espaço tem uma forte componente artística: a calçada portuguesa da entrada, construída a partir de uma obra de Yonamine, a pintura mural de Sol Lewitt - que foi “descoberta” e restaurada durante as obras de requalificação do edifício, os seis carrinhos de hotel pintados por Pedro Campelo, assim como as casas de banho públicas decoradas com azulejos tradicionais desenhados pelo Estúdio Pedrita. Tudo isto num local banhado pela luz de Lisboa e do Tejo através das amplas janelas do edifício. A galeria encontra-se logo à entrada, e até ao momento já recebeu diversas exposições e instalações, como é o caso da criada por Ana Pérez-Quiroga que simbolizava uma cronologia do próprio Espaco Espelho d’Água; ou do trabalho fotográfico do australiano Ralph Kerle sobre a água e os seus reflexos, uma obra em muito semelhante à essência deste espaço. A sala de espetáculos, partilhada com a galeria, onde sempre está um piano visível aos visitantes é palco para diversos concertos, onde é dada muita atenção ao jazz em diversos espectáculos periódicos. A loja, inaugurada em setembro, cuja conceção do espaço ficou a cargo do Estúdio Pedrita, funciona como uma montra para os artesãos e artistas de Portugal e do Mundo, onde se podem encontrar livros, têxtil, artes decorativas e discos.


A área reservada à alimentação é o coração de todo o projeto. Para elaborar a ementa, foi desafiada a prestigiada chef brasileira, Ana Soares, do Mesa III Consultoria, em São Paulo. Foi com muita dedicação que Ana se inspirou em ingredientes e receitas portuguesas, brasileiras e de outros países como Angola e Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé Príncipe em África; Índia, China e Timor, no Oriente para então criar uma ementa de fusão, com pratos e sabores únicos. 


Dividida entre cafetaria e restaurante, num espaço ora mais descontraído, com uma esplanada ao seu dispor e vista para o bar e jardim vertical; ora mais eclético , onde os copos cristalinos deixam transparecer a majestosa obra de Sol Lewitt, as cartas foram adaptadas aos respetivos ambientes. Na cafetaria a carta é muito diversa e multicultural, a começar pelas originais empadas de Moqueca de Camarão, passando pela Vitrine do Sal, onde há Bolinhos de Arroz e Sardinha, Rissóis de Camarão, Caril e Coco, Pastéis de Vento ou Coxinhas de Frango em Mandioca. Ainda na ementa encontra-se a secção da carne, inspirada na técnica gaúcha de grelhar, chamada Fogo de Chão, onde as carnes são, primeiramente, fumadas com ervas aromáticas e depois cozinhadas durante oito horas em temperatura e humidade controladas. 


No restaurante, a carta é mais simples, mais pequena, mas igualmente abrangente. Pequenos pratos como a Terrine de pato com bouquet da horta, castanhas portuguesas, croutons de azeitonas pretas e vinagrete ao Porto; e Medalhões de lagosta com salada de laranjas, tomate, erva doce, amêndoas e hortelã da beira, fazem parte das entradas. Nos pratos principais, o fabuloso Polvo chapeado com batatas a murro, aiolli picante e verduras; ou o Entrecote com chimichurri, esmagada de batata com azeite, e tomilho com agrião, dão continuidade a uma boa refeição. Refeição essa que não podia terminar sem uma sobremesa para adoçar o repasto, tal como o Romeu e Julieta, composto por um creme suave de queijo e nata, com compota de goiaba; ou uma tartelete de limão merengada. 


Sem dúvida um espaço que se deve visitar, desfrutar, e quem sabe por lá ficar. Sim, é possível ficar por lá, graças a um Programa de Residências Artísticas que permita proporcionar visibilidade a artistas, performers, arquitetos, curadores emergentes e fomentar a colaboração entre diferentes plataformas em várias áreas de expressão.