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LUXX - 20 anos de histórias

Perguntássemos a 20 pessoas qual o melhor club de Portugal e quase de certeza que todas responderiam o LUX. Perguntássemos às mesmas 20 qual a opinião delas sobre o LUX e provavelmente teríamos 20 opiniões diferentes. Ano após ano este club que cresceu à beira rio é falado aquém e além fronteiras. Pessoas de todos os credos e crenças acabam por lá ir nem que seja só uma vez e no ano em que celebra o seu vigésimo aniversário, vamos fazer disso noticia.


Foram 20 anos de uma programação intensiva de música de dança, nos vários pisos, a partir de várias cabines. Fizeram-se festas temáticas, construíram-se e destruíram-se cenários, colocou-se vídeo na discoteca para os que não dançam de olhos fechados, convidaram-nos a mascararmos-nos, passaram-se horas a inventar e a desenhar convites, publicou-se uma revista e um jornal, produziram-se programas de rádio, montaram-se exposições, estrearam-se filmes, fizeram-se lançamentos de livros, apresentações de discos, espectáculos de artes performativas, teatro, óperas, concertos de música clássica, de música rock, punk e até houve fado, meteram-se nas mãos de tantos artistas, e deixaram-nos fazer o que quiseram, venderam-se móveis, abriu-se as pernas, assistiu-se ao 11 de Setembro a entrar pela porta adentro – fechou-se o cais e nunca mais lá se pode ir assistir àquela gloriosa alvorada depois de um concerto de St Germain. 


Trouxeram-se os melhores djs do mundo e mantiveram-se os que se conhecem e que são da família, conseguiu-se converter inúmeras almas aos prazeres da música electrónica e sensibilizar algumas para a importância de saber estar numa pista de dança. Foram tantas noites inesquecíveis, centenas de noites e está tudo documentado, não vá a memória falhar. Renovou-se o edifício quatro vezes com obras, nunca se parou de renovar o interior do espaço com intervenções de artistas, mudanças de mobiliário e disposição das salas, fez-se cabines novas, ampliou-se a discoteca no piso zero e fez-se um terraço para poderem usufruir do rio.


Mas não foi só isto: O Lux Frágil instalou-se numa parte da cidade que esteve esquecida e tentou-se tudo para que não fosse. Não foi fácil. Acreditou-se que a parte oriental de Lisboa devia estar ligada ao centro e durante muitos anos não esteve. Aguentaram-ses. Às tantas perceberam que o Lux é um clube de referência na Europa e no interior do país, mesmo para quem nunca cá entrou, e também por isso estão contentes. 


Mas voltemos ao início: nestes 20 anos fizeram as pessoas dançar, ouvir música e ficarem aqui mais tempo do que tinham decidido, tantas vezes até ao nascer do dia. A vida no Lux é uma vida fora de horas e esta parte sente-se por vezes ainda no dia seguinte. 


Na verdade, pelos nossos cálculos, houve algumas dezenas de reuniões que não tiveram lugar, entrevistas de trabalho às quais os candidatos não compareceram, almoços de família onde parte da família não conseguiu comer, mentiras que tiveram que ser contadas, carreiras que não aconteceram, cursos que demoraram mais do que estava previsto, carros abandonados e rebocados, pais desiludidos com os filhos, filhos envergonhados com os pais, relações estáveis destruídas por aquela chama da promessa de uma noite. 


Ao longo deste ano vamos recordar porque é que valeu a pena e porque é que o balanço entre os benefícios e os prejuízos é positivo. Vamos fazer contas.