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Fine Dining - Alma de Henrique Sá Pessoa

Sabem quando vos dizem que não se deve voltar aos sítios onde outrora já fomos felizes? É simples, ignorem. Há sítios que têm de ser visitados pelo menos uma vez na vida e o Restaurante Alma de Henrique Sá Pessoa é sem dúvida "o sítio" ao qual todos devíamos de ir, ser felizes e voltar sempre que possível. 



Alma define-se como um restaurante fine dining que apresenta cozinha de autor, servida informalmente num ambiente sofisticado. A ausência de toalhas nas mesas de madeira castanha é um dos detalhes evidentes dessa informalidade. Pretende ser um espaço inovador, não apenas no que respeita à cozinha que propõe, como ao simplificar e quebrar algumas regras básicas do serviço, que é rigoroso mas descontraído. Os empregados usam fato escuro mas t-shirt e as empregadas usam sapatilhas. Henrique Sá Pessoa recusa etiquetas. Para ele, há apenas a cozinha boa e a cozinha má. A sua, define-a como uma cozinha de sabor: gosto refinado, técnica perfeita e produto excelente. A base da sua filosofia gastronómica está nas suas influências e referências: as viagens pelo mundo, a paixão pela Ásia, o conhecimento da cozinha tradicional portuguesa, a vida em Lisboa. 



Quanto à comida, não há palavras que a defina. No Alma não se servem pratos, mas sim experiências. A carta está dividida em quatro menús: Origens, Caminhos (de três pratos), Alma e Costa a Costa (ambos de cinco pratos). Foi sobre este último menú que se deveu a nossa nova visita. Trazer o mar à mesa durante o ano inteiro, é essa a premissa por trás deste menú que começou por ser criado para a aclamada apresentação de Henrique Sá Pessoa na edição de 2016 do Peixe em Lisboa e chegou ao Alma com o mesmo sucesso. Tanto sucesso que o menú já foi recriado, adaptando o mesmo a novos pratos, indo ao encontro dos ingredientes sazonais, mas nunca perdendo o que é mais importante, a derradeira experiência de um menu de mar. Entre muitos outros ingredientes, tem uns quantos pouco habituais que despertarão curiosidade, como as algas, a água do mar que inunda um dos pratos e a Veja dos Açores, um peixe carateristico do arquipélago. Mas também estão presentes algumas espécies que todos conhecemos, como a sardinha, a lula e os camarão vermelho, numa abordagem surpreendentemente simples e deliciosa.





Mas comecemos pelo início. O menú arranca já com os habituais "snacks". A tapioca com o seu jeito crocante, a água de tomate e pepino com o seu toque fresco e o macaron com o seu sabor salgado abriram as hostes; seguidos de imediato pela tempura negra de pimentos que não há palavras para descrever o bom que é. Ao olhar faz-nos torcer o nariz, mas depois de provar as nossas papilas gustativas batem palmas de felicidade. Continuamos com a vieira curada com mousse de abacate e "leche de tigre" fazendo lembrar um ceviche. Segue-se a sardinha com beringela, pimentos assados, pão seco e maionese de paprica fumada, uma entrada brilhante cheia de sabor a Lisboa e onde se come tudo até à última garfada. Depois da sardinha, chega a lula com grão, tomate confitado, acelgas e caldo de lula, para comer à colherada, pois num restaurante destes parece mal beber da tigela. Um prato simples, bom, equilibrado e onde se sente inspiração além fronteiras. 




Continuando o repasto, chega a vez do prato que na nossa opinião é o reflexo da cozinha de Henrique: sabor, técnica perfeita e produto de excelência. Camarão vermelho levemente cozinhado, açorda, alface do mar e bisque emulsionado com erva príncipe. Ao olhar até pode parecer algo demasiado simples, mas ao provar sentimos toda a essência a cada garfada que damos. Se o "less is more" tivesse um sabor, provavelmente serio o deste camarão. A irreverência chega no último prato salgado do menú, um lombo de veja dos Açores cozinhado ao vapor, com um arroz de amêijoas à bolhão pato irrepreensivelmente bem cozinhado e codium, para lhe dar um sabor extra a mar.




Para refrescar o palato, chega-nos a já habitual pré-sobremesa, imediatamente seguida de uma explosão de sabor. Mar e citrinos é a sobremesa que finaliza em grande a chegada do mar à nossa mesa. Um elegante sabor cítrico, alga, merengue, tinta de choco, tudo combinado num sabor estrondoso, como a rebentação da maré. Toda a refeição foi devidamente acompanhada pelo pairing de vinhos escolhidos pelo sommelier, entre os quais se destacam o Vicentino e o Villa Oeiras. 



O menu tem o valor de 100€ (sem bebidas). O Restaurante Alma está aberto de terça a domingo, das 12h30 às 15h30, e das 19h00 às 23h00, no número 15 da Rua Anchieta, no Chiado. As reservas podem ser feitas através do 213 470 650.