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Conversas sem Filtro - Este Dj não saiu de um Reality Show

Vitor durante o dia, Ramboiage durante a noite. Estivemos à conversa com Vitor Silveira a.k.a. Ramboiage, sobre os seus gostos, trabalhos e muito mais. Vitor tem um gosto e uma cultura musical invulgar e cedo começou a ouvir música diversa, alimentando interesses muito peculiares por estilos atípicos para a sua idade. 


Pé no House, empurrão ao Disco, Ramboiage é mestre irrequieto e arroja clássicos intemporais às feras electrónicas. É impossível ficar indiferente ao estímulo sonoro das suas penetrantes escolhas musicais. A “queda” para os discos e apetência para espicaçar públicos bailarinos reflectem-se inevitavelmente nos locais por onde passa, já esteve no line up dos principais festivais do país: SBSR, Vodafone Mexefest, Sumol Summer Fest, Sudoeste, NOS Alive, Faro Music Fest, Festival do Ar, Rock In Rio ou Milhões de Festa. E, hoje em dia é o programador artístico de um, o Piknic Electronik Lisboa. De Lisboa para o mundo, Ramboiage pode gabar-se de ter tocado a convite nos melhores club's pelo Mundo fora, mas foi em Lisboa que consolidou a sua carreira como Dj. Bairro Alto, Frágil, Musicbox e LUX são apenas alguns dos sítios por onde já passou.

- Olá Vitor, antes de mais o nosso obrigado pela tua disponibilidade. Queríamos começar por perguntar o porque de Ramboiage? 

VS - Pah, também eu tenho curiosidade em saber de onde vem. Sei que não é de Rambo, até porque quando eu era puto o meu herói era o Michael Knight e o KIT. A minha teoria é que vem de rambóia e depois acrescentei o "age" para poder ser pronunciado em qualquer língua.

- A maioria de ex-concorrentes de reallity shows acabam por abraçar a profissão de Dj's. É algo assim tão fácil? É que a maioria deles não nos parece ter aptidões cognitivas seja para o que for.

VS - Ser Dj ficou na moda de há uns anos para cá, talvez pelo fenómeno do EDM. Hoje em dia é fácil passares música, basta teres um programa que te acerte as batidas ao carregares num botão e fazes um brilharete. E isso não me incomoda nada porque para mim o que mais importa é a música que passas. Por exemplo, tu se estiveres a gostar da música aguentas 3 pregos de um Dj se a música for boa, mas não aguentas 3 músicas más seguidas por melhor que o Dj seja tecnicamente. Depois há Malta que pensa que se ganha rios de dinheiro. Mas a verdade é que essa malta que se torna Dj Saindo de programas manhosos ou de outros lados também não fica por cá muito tempo, e depois é um mundo de música completamente diferente do meu, não conheço 99% da música que tocam.

- Qual a grande diferença entre passar música e produzir música? Todo o Dj é produtor e todo o produtor é Dj, ou são coisas totalmente distintas e requerem "skills" diferentes?

VS - Na minha opinião são coisas diferentes que apenas se tocam na tua essência musical. Ou seja, o que tu ouves e gostas realmente reflecte-se ou na música que passas ou na música que crias. Mas isso não faz de um Dj produtor ou vice versa. Conheço óptimos Dj's que não fazem música , conheço Dj's que gosto de ouvir mas que fazem música que não me agrada particularmente, como também sou doido por músicas produzidas por um gajo que quando está a por discos é uma seca. Acho que não há um rótulo para isso.

- Paralelamente aos espaços onde passas música, estás associado à curadoria musical do Piknic Électronik Lisboa que foi um furor em 2015, fala-nos um pouco dessa experiência.

VS - É um mundo diferente, mas gosto mesmo de fazer isto. Aliás era algo que eu tinha em mente fazer, programar um festival ou um evento deste género com a música que gosto, mas pensava que isso ia acontecer daqui a uns 10 anos. De repente sou convidado para este projecto. Já o conhecia de nome. A parceria foi-se formando em moldes que gosto de trabalhar, e depois a malta com quem trabalho de Barcelona são uns porreiros. Tenho uma ótima relação e afinidade musical com o Loic que é o programador internacional dos piknics pelo mundo e isso facilita nas escolhas de artistas.

- Também estarás envolvido no projeto para 2016? Queres abrir-nos um pouco a cortina?

VS - Vou continuar responsável pela parte artística e tudo o que envolve: palco, sistema de som, etc etc. Na parte de cartaz não posso revelar nada a não ser que vai ser mais forte. Posso adiantar que vamos ter mais edições do que o ano passado. Há mais novidades, mas não posso revelar agora. Mas também já falta pouco para vir tudo cá para fora.  



- É fácil escolheres o alinhamento devido aos teus contatos, ou por vezes tens de andar ao sabor das marés por causa das agendas?

VS - As agendas dos artistas são importantíssimas, mas como funcionamos ao domingo de tarde não fica tão complicado. Mas o ano passado não marquei 2 ou 3 Dj's por questões de agenda deles. Ter contactos e conhecer pessoalmente estes Dj's internacionais ajuda claro, mas não torna mais fácil a escolha. Tens de pensar em quem compra bilhete. Ou seja, eu marco o que eu gosto mas sempre a pensar se vai resultar para o público ou não.

- Sentes que a sociedade de hoje em dia ainda vê as pessoas ligadas à noite como quem só quer borga, ou achas que as mentes já vêm que são trabalhos como muitos outros?

VS - Cada vez mais as pessoas respeitam quem trabalha de noite. E isso deve-se ao facto de a malta pioneira da noite em Portugal no fim dos anos 70, princípios de 80 serem hoje mais velhos e terem passado pelo mesmo que os filhos estão hoje a passar. A compreensão hoje em dia é maior, no tempo dos nossos pais os nossos avós deviam pensar que eles eram malucos, "mas o que é que ele fica a fazer até as tantas?" hoje felizmente já não é assim. 

- Vamos às questões rápidas. O que te inspira nos teus "sets"?

VS - O público e o espaço onde vou tocar é o que mais tem importância na música que levo. Nunca preparo nada, levo muitas opções e depois logo se vê. Além de me dar mais pica estou mais ocupado a tentar entender o que se está a passar na pista.

- Quais as tuas referências musicais de eleição?

VS - Disco, House, funk, jazz. Por esta ordem.

- Qual ou quais os teus artistas de eleição?

VS - Ishhh, são tantos. Os principais são Prince, os Lcd Soundsystem e o Moodymann. Mas depois há dezenas de músicos de quem sou fã , Carl Craig, Todd Terje, Nicolas Jaar, Radiohead, The Cinematic Orchestra... Nunca mais ia parar.



- Qual ou quais são para ti os "David Guettas" desta vida (referimo-nos aos Dj's que batem palminhas e afins)

VSOlha, aqueles que referiste logo ao início. DJs de pressão. Depois há os que gostam mesmo desse show e há os que o fazem para ganhar dinheiro, é legítimo, não critico. 

- Quantas vezes por noite te pedem uma música especifica?

VSDepende, mas tenho a sorte de na maioria me pedirem coisas interessantes. Mas claro que tenho histórias engraçadas de pedidos. Uma vez eu disse que não tinha o "aí se eu te pego" e disseram-me "deves ter a mania, amanhã devias acordar com um pessegueiro no cu". Mas correu tudo bem, acordei normal.

 - O que te dá mais gozo? Fazeres a festa ou estares na festa?

VSAs duas, quem é que não quer estar numa grande festa a curtir? E quem é que tendo a possibilidade não quer proporcionar uma bela festa? Tenho a sorte de me acontecerem as duas várias vezes.

- Para terminar e ainda relativamente ao Piknici Électronik, dá para metermos uma cunha para trazerem a Nina Kraviz?

VS - Ahahah , a giraça da Nina! Podem, vou enviar-lhe um whatsapp a falar de vocês. Depois é só ver a agenda dela.