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Bastardo, uma cozinha divina.

Somente alguém com nome divino podia tomar as rédeas deste "filho ilegítimo da cozinha portuguesa". Desde o início do ano que após a saída do Chef Luís Rodrigues, a cozinha do restaurante Bastardo está a ser orquestrada por Jesus. Não, não é a entidade divina nem o treinador de futebol, falamos mesmo de David Jesus, um jovem Chef que já tem no seu curriculum cozinhas como a do The Chiltern Firehouse em Londres, ou o Eleven em Lisboa e assina agora a carta daquele que para nós é dos restaurantes que mais nos faz sentir em casa.



Com uma decoração moderna, onde a mistura de vários materiais e apontamentos coloridos são predominantes em toda a sala. As tapeçarias no chão contrastam com o escuro da madeira. As cadeiras, cada uma de seu formato e feitio, realçam a diferença nas mesas. E nas paredes os retratos de estilo renascentista escritos com expressões contemporâneas retiradas de sucessos cinematográficos, tais como "vai à merda, vai tu" dita por Joaquim de Almeida e Maria de Medeiros no filme "Adão e Eva" dão um sentido de humor único ao espaço. 



Mas o bom humor não nos alimenta, a comida sim e essa apresenta-se agora como se de uma volta ao mundo se tratasse. A primazia, continua a ser o foco na cozinha e produto português, mas a viagem aos sabores da América do Sul é notável e a Ásia sente-se a cada garfada. O repasto começa com o couvert que continua a ser servido nas caixas de lego, mas onde o pão alentejano ganha lugar ao lado da focaccia e acompanhados por húmus, pasta de azeitona e manteiga de camarão. Seguem-se as entradas que servem perfeitamente de refeições leves, tal a diversidade na oferta. Nas novidades destacam-se os sabores peruanos e nipónicos com um ceviche de camarão, polvo e creme de milho; e um tataki de atum com manga, aipo e molho ponzu. Dois pratos leves, frescos e que comprovam a etnicidade gastronómica da nova cozinha do Bastardo. De referir também os "clássicos" da carta, como é o caso das 100 gramas do suculento bife tártaro, ou da entornada, onde um queijo de ovelha no forno se faz acompanhar de compotas e tostas.




Nos pratos principais a fasquia subiu imenso e vemos agora um polvo com fondant de batata, couve flor levemente grelhada, pickle de rábano, piso de salsa e tinta de choco a servir de "cama", a esta tentação que é dificil parar de comer. O fiel amigo também chega à mesa em forma e acompanhado de um puré de beringela a fazer lembrar um baba ganoush, grelos, alga kombu e um género de pico de gallo com pimentos, salsa. coentros e presunto que compõem da melhor maneira um prato cujo nome diz tudo, o asiático. Ainda nas novidades temos um caril de frango com banana e malagueta e um linguini com tinta de choco, camarões e ameijoas à bolhão pato, fazendo lembrar um bom spaghetti al vongole com um twist perfeito. Temos de dar também um grande ámen ao ramen com udon, pickle japonês, ovo a baixa temperatura e pato ou tofu. Dos clássicos, o malandrinho de abóbora continua a marcar pontos e o bife está mais português que nunca.



E porque o que é doce nunca amargou, a refeição tem de acabar com o quindim de amêndoa, maça, morango e creme inglês; com o brownie, que equilibra a acidez das framboesas, com o doce do gelado de caramelo salgado; ou com o cremoso de créme brûlée, sorvete de côco, chá verde e curd de limão. Para uma opção mais saudável, a salada de frutas é a melhor opção.




Além de todas estas maravilhosas novidades, o Bastardo irá mudar um pouco a disposição da sala, passando o bar mais próximo da entrada, onde se pode beber um copo de vinho ou um cocktail enquanto esperamos que nos acompanhem à mesa. Para finalizar a festa serão servidos também menus de degustação a grupos, numa mesa especial e sobre reserva. Quem disse que viajar era caro e cansativo? Por vezes uma viagem de sabores é o suficiente para estarmos noutros lugares e o Chef David Jesus é um bom piloto para nos conduzir.