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Vamos lá falar de arte - Sandra Baía, Bienal de Veneza e Arco

Arrancou no dia 13 deste mês a 57ª edição da bienal de Arte de Veneza, na qual a artista plástica portuguesa Sandra Baía está presente. Sandra iniciou o seu percurso criativo na pintura há quase duas décadas, mas foi a partir de 2012 que começou a explorar diferentes linguagens plásticas, menos convencionais, através do recurso, por exemplo, a materiais industriais, como as placas de sibu, o inox, o acrílico, ou até antigas antenas parabólicas recuperadas do lixo.


As características físicas e mecânicas destes materiais permitem a Sandra abordar através da sua expressão artística conceitos como massa, solidez, individualidade e impessoalidade. Abandonando as telas definitivamente em 2015, o corte, o polimento, ou a soldadura, passam a ser as técnicas de criação, usadas pela artista no processo de transformação dos materiais no seu estado bruto em instalações artísticas. O seu percurso reflete o seu ímpeto explorador, experimentando livremente diversas técnicas e meios, formas de expressão mais minimalistas ou mais expressionistas, mais figurativas ou mais abstratas. No entanto, a tridimensionalidade especial, o site specif das instalações para espaços público, assim como o minimalismo conceptual são características que definem este período de viragem e de expansão experimental no percurso de Sandra Baía. 


Apesar da versatilidade e multidisciplinariedade que a caracterizam, a artista encontrou nos materiais espelhados sua identidade criativa. As suas propriedades reflexivas sugerem a vulnerabilidade e a intimidade implícitas no diálogo do espetador consigo mesmo e com espaço que o rodeia, interação que a artista procura permanente suscitar através da sua obra. Exemplo disso, as esculturas “Imitative” (2015) e “Pillow Talk” (2016) são duas peças emblemáticas produzidas nesta fase e entre as quais se encontra vários traços comuns, como a grande escala dos trabalhos, o minimalismo conceptual e os matérias físicos e refletores. No passado já participou em inúmeras exposições, a solo e coletivas, e as suas obras constam de coleções públicas e privadas nacionais e internacionais, como a do Museu Coleção Berardo, Fundação Andy Macdonald, Cinemateca Portuguesa, Hadid Gallery, Macadam Gallery, entre outras. Mas o convite para participar na Bienal de Arte de Veneza , onde fará a sua estreia, representa para a artista um momento de afirmação e de consolidação do seu trabalho, não só pela prestigiada reputação do evento, como pela dimensão internacional que este oferece. 



Para além da programação oficial, a edição deste ano contará com mais de 20 eventos e mostras paralelos. Será neste contexto que Sandra, a convite do Centro Cultural Europeu, apresenta o seu trabalho “Intended Infinity”, integrando o coletivo de artistas internacionais, entre eles, Marina Abramovic (Sérvia), Nobuyoshi Araki (Japão) e Jeff Koons (USA), que participam na exposição. Exibida pela Fundação alemã GAA “Personal Structures – open borders” estará patente no Palazzo Bembo e no Palazzo Mora e ainda no Giardini Marinaressa até ao dia 26 de novembro.



Por cá, ainda este mês, a convite da TAL Gallery - plataforma, produtora e galeria contemporânea fundada em 2010 no Rio de Janeiro - Sandra Baía irá integrar a exposição “ Well, It’s Just an Ocean Between”, inaugurada no âmbito da Feira Internacional Contemporânea ARCO. A exposição propõe um diálogo entre quatro artistas contemporâneos brasileiros consagrados – José Bechara, Carlos Vegara, Raul Morão e Cabelo – e quatro artistas contemporâneos portugueses - Sandra Baía, João Paulo Sarafim, Paulo Arraiano e Pedro Baptista – que partilham de alguma forma práticas artísticas comuns de dois países tão próximos mas tão distante geograficamente. As volumetrias da obra da artista portuguesa, que escondem a fragilidade de quem se espelha e se encontra frente a frente com a vulnerabilidade humana, estarão em diálogo com as formas geométricas, bidimensionais ou tridimensionais, que caracterizam o trabalho de Bechara.